24.9.08

sugados pela maré


Senhora dos Afogados - Sesc Consolação


Nelson Rodrigues. Antunes Filho. Esse espetáculo não podia ser perdido. Eu fui. Fui e vi. Assisti. Atenta. A Encenação tava muito boa. Como não podia deixar de ser. Trabalho do Antunes. Visualmente muito bonito. Coro. Palco Nú. Cadeiras. Atores. Nada que ele não tenha feito antes. Mas bonito sim.

O que eu não esperava era ver Nelson Rodrigues falado como se fosse um texto de Moliére. Em tom de farsa. Não parecia Nelson. A tentativa de deixar o espetáculo impactante causou um estranhamento. Porque aquela linguagem não combinava com o universo rodrigueano. Atores bons. Mas com um tabalho vocal estridente. Tornou o espetáculo monótono. Fora do tom. O tom que se quer ao ver Senhora dos Afogados.

Queremos ser sugados pelo texto. E levados sem dó pela maré. Do oceano. Que. Implacável. Não devolve seus afogados. Faltou essa tensão. De ver a vida como ela é. Naquela família claramenete desestruturada. Como toda família.

Faltou. Faltou o trágico no Nelson. Mas não faltou uma boa encenação. Que para quem nunca assistiu Antunes, vale a pena. No final das contas foi bom. É sempre bom tentar. E nem sempre se acerta. Nem mesmo Antunes Filho.

22.9.08

spathódea

Vale a pena ir pra Zona Norte. Em um teatro abandonado no meio de uma rotatória gigante. Por tudo e por todos. Com luz de serviço que parece uma padaria.

Vale a pena. Pra ver ela. A Spirulina. E o seu domingo ficar feliz.

Um palhaço precisa de tão pouco. Parece tão simples. E ao mesmo tempo é tão difícil sê-lo. Que incrível ver um espetáculo onde uma espada comprada em uma loja de 1,99 se transforma em uma lição de ecologia. Com a idéia mais simples do mundo. Que contagia. Encanta. Faz rir. E pensar.

Pensar no quanto complicamos tudo. No quanto a vida pode ser mais simples. E mais gostosa. Leve. Solta. Levar tudo muito a sério faz só crescer rugas na testa. É bom desanuviar. E é lindo ver um palhaço.

Foi a primeira vez que vi a Silvia Leblon em cena. E já virei fã.

Quero morar numa nuvem de tule. Que pode ser cachoeira. Ou o que eu mais quiser.


Spirulina em Spathódea

(até 28/09 no Teatro Alfredo Mesquita)

19.9.08

o parto rouanet

Tempestades. Abonanças. E finalmente aprovação. Quase um bebê. Vai. Um bebê de 8 meses. Isso é um sinal? De que as coisas agora acontecerão prematuramente. Tomara.

Depois de tantos documenteos pedidos. Tantas mudanças na lei. E a descoberta de que tudo que foi exigido agora não é mais preciso. Porque muda ministro. Mudam as regras. E a gente fica no meio deste samba. O Seu Rouanet olhou pro Quixote.

Sensação boa. Medo ao mesmo tempo. Porque agora que a luta maior vai começar. A luta pra conseguir patrocínio. Pro sonho acontecer como ele deve ser. E não aos trancos e barrancos.

Depois de tantos monstro iremos conseguir? Eu acho que sim. Porque vontade não falta. Só não sei bem por onde começar.

Mas vamos.

Que vamos.

16.9.08

contaminado

Pode parecer loucura. De fato deve ser. Mas quando se está desenvolvendo um trabalho de pesquisa você acaba se contaminando com o clima proposto pela peça. A procura de um sentimento que não é seu é um buraco sem fim. Para dentro de si mesmo.

Um abismo. O Quixote me trazia uma sensação de renovação. O Hamlet me põe numa amargura sem fim. Num questionamento. Num peso. De tonelada. É. Eu não estou em Elsinor. Mas Elsinor está em mim.

E tudo aquilo me contamina. Os ensaios são difíceis. A leitura é dolorida. Angustiante. Todos estão ali em busca de auto-conhecimento. E de reconhecimento. Do grupo. Como um grupo. Como uma força de união que agora vai ter que surgir. Para por pra fora tudo isso. E exorcizar.

Quem Sabe.

Renovar de novo.

E que Elsinor volte a ser La Mancha.

11.9.08

a descoberta

Noite em claro.
Resolvi que eu tinha que descobrir.
Por quê o Hamlet é genial?

Eu não posso querer montar a peça só porque todos dizem que ela é genial. Isso virou meio que uma lei, desde que Shakeaspeare é Shakespeare. E meio que. Muitos estudiosos. Muitos atores. Muitos qualquer coisa. Discutem sobre isso. E. Banalizou.

Banalizou porque as pessoas simplesmente aceitam que ele é o texto de todos os textos e acabou. Sem realmente procurar o seu significado. Mas não " O Significado". E sim o seu significado pessoal. Para achar que aquilo é realmente "aquilo tudo".

Não. Eu nã ia dormir sem saber. Depois de ter lido tantas vezes o texto. Estava me sentido meio ridícula por não ter descoberto o Hamlet ainda. Li o que o Bloom acha dele, o que o Kott acha dele, o que a Barbara Heliodora acha dele. Mas o que eu acho dele?

Pra mim, ele ser um homem renascentista no meio de algo medieval não o torna Hamlet. Todos os gênios são a frente do tempo. O texto ser ambiguo e propenso a interpretações inumeráveis? Sim, esse é um caminho... mas não era lá ainda...

Foi quando me deparei com pequenas palavras no texto do Hamlet. Que me deram um medo absurdo. Um medo indescritível do Príncipe da Dinamarca pular do papel e vir falar comigo. Pessoalmente.

Sim. Era ali. O Hamlet sabe que ele não existe. Ele sabe que ele é um personagem de teatro. Ele sabe que tudo aquilo é uma grande encenação. E é isso que é o genial. Ele age o tempo como se ele fosse um ator. Fazendo o papel dele mesmo. ELE SABE. E a gente fica sem saber se ele é ou não é.

Horrorizei. O Metateatro é o genial do Hamlet.

Tudo estava calmo no seu reino. Ele estava revoltado sim com a morte do pai, e as bodas da mãe com o tio. Mas eis que surge o grande diretor da peça. O Espectro do seu pai. E impõe a ele um roteiro. Um roteiro que ele não quer cumprir. Porque sabe que vai dar merda.

São três peças de teatro dentro de um grande genial texto.

A primeira grande peça seria o roteiro de vingança imposto pelo Fantasma. A segunda peça é o "ator" Hamlet se fingindo de louco para ludibriar os espiões enquanto ele ganha tempo para decidir o que fazer. E a terceira peça, é a peça que surge de encenadores de atores dentro da peça. Como a solução para que Hamlet tenha certeza de que o tio é o assassino.

Não é lindo que uma peça, entre tantas dúvidas e confusões. Seja o sinônimo da verdade? É a encenação que faz o Rei Cláudio se denunciar. O Teatro. Salva o Teatro do Hamlet. Mas não o impede de morrer no final.

Hamlet é épico e é tragico ao mesmo tempo. É uma tragédia que tem um oráculo mal feito porque o ator principal contesta o roteiro e acaba morrendo. O gênio acaba caindo em uma armadilha tão infame que é impensável. Para ele.

Para mim é isso. E agora estou alimentada.
Porque nada é mais importante que o teatro.
E falar dele é o que me move.
Para você. Seja o Hamlet quem você quiser.

8.9.08

ofélia


O quanto para mim é difícil parecer frágil. Ofélia. Dói em mim. Dói ser alguém que não completa o movimento. Que vive a sombra da repressão. Que vive um amor fadado à tragédia. Que morre. Afogada por aquilo que poderia ser.

É mais fácil representar alguém mais forte que a gente. Difícil é encontrar em si mesmo a fragilidade. Expor isso. E chorar. E amar Hamlet. Amor tão grande. Que não nunca vai ser. De tão grande que é esse homem que se ama. O maior de todo o teatro.

Eu não queria amar o Hamlet.

Não é fácil ser Ofélia.

6.9.08

por quê?

Por que a cada passo dou um precipício se põe a minha frente?
A cada palavra dita.
A cada cena estudada.
A cada respiro.
Vê-se que o caminho é sem volta.
Mas.
Que caminho é esse?
Não me deixa em paz.
Cada pequena vitória traz consigo mil derrotas.
E olhares.
Olhares que me recriminam.
Olhares que não entendem.
E me angustiam.
Me corroem.
E continuo dando passos.
Na esperança de que depois do precipício.
Haja Paz.

4.9.08

pessoas vem e vão

Sempre que se fecha um ciclo chega-se a esta discussão.
Quem fica. Quem vai.
E sempre tem gente que vai. Segue outros coaminhos.
É estranho.
Por um tempo. Ou para sempre.
Fica aquela sensação de que está faltando alguém chegar no ensaio.
E chegam.
Chegam pessoas novas.
Que iluminam.
Novos encontros.
Ciclos.
Ciclos.
Triste por quem vai.
Mesmo.
Feliz por quem entra.
Muito.
 
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