29.7.08

a mandrágora

Realmente eu estava precisando de uma poção afrodisíaca teatral. Fui assistir "A Madrágora" do grupo Tapa na hora certa.

Toda hora. Nessa vida teatrante. Se põe em dúvida o seu papel. Pergunta-se se vale a pena. São tantos os pisões nos calos que uma hora você cansa. Chora. Pensa em desistir. Pensa em mudar de caminho. Tem medo. Muito medo.

É preciso tomar muitas doses de mandrágora para recobrar os ânimos.

Essa montagem está em cartaz desde 2005. Premiada. Aclamada. Nunca tive a oportunidade de ir. Mas essa era a hora certa pra mim. Estava cabisbaixa. E me deparei com um oásis. Dentro de um shopping. Teatro Nair Belo. Saudosa.

Ali eu vi uma comédia. Bem trabalhada. Muito bem trabalhada. O resultado de um trabalho de pesquisa. Não precisa me contar que foi um trabalho árduo. A limpeza de ações e propostas nos conta isso. E o resultado é de dar inveja. Tolentino é Tolentino.

Guilherme Sant'Anna. No papel de marido frouxo e traído. É a síntese de um bom trabalho de ator. Ali eu vi uma verdadeira construção de personagem. E dei risada. E me apaixonei. Pelos seus gestos. Seu andar. Maquiavél com certeza ficou feliz com a representação.

O teatro brasileiro agradece.


Guilherme Sant'Anna e Flavio Tolezani


mais informações: http://bocadecenacomunicacao.com.br/mandragora/

25.7.08

aline baba no lounge cultural

Pessoal, para quem perdeu minha entrevista no Lounge Cultural da All TV no dia 13/08, aqui estão alguns vídeos...sem mais delongas... assistam.







22.7.08

encenadores no youtube

Ontem, com a paralização do orkut, não sabia o que fazer na vasta madrugada que tinha pela frente. Do jeito que eu sou. Não posso ler, nem assistir um filme, porque tudo que prende minha atenção tira meu sono.

Resolvi fuçar no youtube. Confesso que ainda não sou muito familiarizada com ele. Daí que não dormi mesmo. Fiquei digitando nomes de grandes encenadores do século XX. E não é que encontrei vídeos deles no youtube. Não estou acostumada com tanta modernidade. Ficava com raiva quando lia nos livros coisas do tipo: "Em o Inspetor Geral, dirigido por Meyerhold, nem o ângulo de um cotovelo é deixado pro acaso". Eu queria ver o que o livro estava falando.

E agora descobri que algumas coisas antigas como essa pode ser que a gente encontre na Internet. Não achei o Inspetor geral. Mas achei coisas interessantes do Peter Brook, Grotowisky e outros. Vou colocá-los aqui para quem quiser apreciar.







20.7.08

o avassalador orgão público (parte 18 e meio)

Porque deveríamos confiar no Ministério da Cultura?
Se não podemos confiar no nosso país.
Se não podemos confiar.
Se não podemos.
Se não.
Se.

Esperançosa. Eu. Como já repeti algumas vezes. No dia 28 de fevereiro. Deixei o projeto do Quixote nas mãos de uma simpática mocinha na cinemateca.

Hoje. Dia 20 de julho. Constato: em quase cinco meses, eles não se deram ao trabalho de ler nosso projeto. Como assim? Explico.

Depois de toda aquela novela de documentos. Depois da não-análise da reunião do mês passado. Me deparo como o resultado da reunião deste mês:

Projeto retirado da pauta : Apresentação do responsável pela livre adaptação ou tradução do texto e a devida documentação de liberação dos direitos autorais.

Assim. Todos que lêem esse blog sabem. O espetáculo "Quixote'', não tem texto. É uma livre adaptação da obra original que por sinal, escrita em 1615, pelo saudoso Miguel de Cervantes, já é domínio público há pelo menos 350 anos.

O Sr. Rouanet hoje me fez duvidar de mim mesma. Fui buscar o projeto e ver se por engano eu havia esquecido de mencionar que o espetáculo era de imagens e ação física. Às vezes. Por ventura. Eu poderia ter me esquecido da proposta de linguagem do meu grupo. Vai saber.

Gostaria até. Aliás. Peço humildemente que analisem minhas palavras. Pra ver se realmente não dá apra enteder do que se trata o espetáculo.

Fielmente reproduzo o que está escrito, rubricado e datado no projeto:

FORMULÁRIO MECENATO
FOLHA 2 - JUSTIFICATIVA

A realização do espetáculo “Quixote” trará a tona um processo de criação baseado na apropriação de uma obra para a posterior leitura pessoal e única desta, como exemplo de um tratamento onde o resultado não é uma adaptação do original. O espetáculo pretende criar um discurso cênico inspirado na obra de Miguel de Cervantes, onde as personagens centrais são encaradas como arquétipos humanos, em situações que antes de se obrigarem a resumir ou adaptar o romance, reconstroem simbolicamente a trajetória de sonho, utopia e superação, o desejo de vencer as barreiras que a realidade impõe para transformá-la, trazendo, quem sabe, um pouco de sagrado à vida.

O Dom Quixote de Cervantes se dá a liberdade de olhar o mundo com outros olhos, de enxergar aquilo que nos é posto como definitivo de uma maneira transgressora, pois acredita naquilo que já não cremos mais: a transformação. E o sonho é o que pode haver de mais sagrado. É ele que nos redime da “obrigação” de sermos perfeitos, que nos inscreve na categoria dos “anti-heróis”: imperfeitos, patéticos às vezes, cheios de falhas e desejos impossíveis. Descemos da esfera dos seres superiores e descobrimos a coragem de revelar o que existe de mais humano: nossas imperfeições, medos, angústias, paixões... O “anti-herói” é o herói que se trai, que revela seu lado fraco, que muitas vezes é humilhado, massacrado, mas que defende o direito sagrado de crer que o mundo pode – ou ao menos deveria – ser diferente. E é bonito ver o herói se traindo. Porque é humano. E antes de mais nada, entendemos a obra de Cervantes como uma profissão de fé na humanidade.

Assim sendo, pensamos em um tratamento para o espetáculo que possa trazer uma atmosfera de fábula, uma criação livre da metáfora do que essa figura significa, em um processo colaborativo entre direção e elenco. Para valorizar a universalidade da obra e sua leitura simbólica, a opção é investir nos dados imagético e sonoro, sem o uso de texto: o elemento verbal, riquíssimo no original, é aqui traduzido em imagens que a nosso ver possibilitam leituras diversas e menos eruditas dos conflitos e temas evocados, tornando o espetáculo mais sensorial e menos logocêntrico. Dom Quixote é um exemplo de arquétipo literário no Ocidente – mesmo aqueles que nunca leram a obra de Cervantes possuem um entendimento do que esta figura representa. Quixote é praticamente a personificação da ruptura com padrões sociais vigentes, da crença nos ideais, na transgressão mais pura. Em meio a uma realidade que oprime e sufoca, o reencontro com nossa humanidade perdida é o que de mais contundente pode haver. Especialmente se este encontro se der através de uma linguagem despretensiosa, singela e onírica.

Acreditamos que o público poderá ter acesso a uma visão menos erudita de um clássico, que aproxima por colocar em primeiro plano seu entendimento mais essencial, deslocando o foco do elemento verbal e reorientando-o para o sensorial – consequentemente, tornando o poder de comunicação do espetáculo muito maior. Tendo em vista que o tratamento pensado possibilita a um só tempo uma elaboração estética e um discurso sinestésico que desobriga a platéia de referências prévias ou erudição, o público alvo potencial engloba tanto o universo específico, como interessados em teatro, como alunos da rede pública que terão a oportunidade de perceber como uma obra clássica pode ser entendida e assimilada, no que possui de fundamental, de uma forma menos ortodoxa e racional e mais poética e simbólica.

Agora me digam. Um espetáculo sem texto. Baseado no original. Deve pedir direito autoral pra quem?

E reitero que isto não tem o menos cabimento visto que, sendo a obra de domínio público, mesmo que tivesse algum texto na peça. Está descrito acima que a adaptção é do diretor e dos atores.

Eu, Aline Baba, libero a adaptação feita por mim mesma do meu próprio espetáculo.

Fui procurar alguma cláusula nova no projeto, já que cinco meses se foram... infelizmente. Porque alguma justificativa havia de ter. Encontrei as seguintes exigências que não existiam quando eu fui lá, naquele 28 de fevereiro de 2008...saudoso:

- Documentos comprobatórios de autoria/titularidade da obra quando se tratar de utilização de obra própria - com firma reconhecida. --- Não, a obra do Cervantes não é minha, o nosso espetáculo é próprio, mas baseado nela, e não temos um texto, só um roteiro de cenas, para comprovar, já que TEATRO NÃO É SÓ PALAVRA.

-Tradução juramentada, com cópia autenticada, para a utilização textos originais redigidos em outra língua. --- Essa cláusula por motivos óbvios, não me diz respeito.

Faço aqui uma enquete:
1) O Sr. Rouanet não leu direito meu projeto.
2) Eles não tem uma cláusula para espetáculos sem texto e não sabem o que fazer.
3) Eles realmente não se importam.

Seu Rouanet. Eu não quero mais você.

18.7.08

minha vida na arte

Primeiro Sinal.
Apaga a Luz.
Segundo Sinal.
Merda.
Terceiro Sinal.
Público entrando.
Gandhi.
Vira a página.
Luther King.
Vira a página.
Olhos fechados.
Sonhando com o gigante.
Paul.
Moldura.
Vento.
Que venta.
Coração bate.
Alleluiah.
Lágrima.
Aplausos.
Reverência.
Quixote.
Minha alma.

15.7.08

lounge cultural

Domingo dei minha 1ª entrevista na TV. Tudo bem que foi em um programa de internet e que só meus amigos me assisitiram. Mas estar ali com a sensação de estar falando pra muita gente, sobre seu trabalho, sobre a história do teatro em SP, reconfortou.

Acho que logo mais a entrevista saíra no youtube e eu coloco aqui para voces verem.

Obrigada Luiz pelo convite.

E vamos que vamos.

11.7.08

sonho é sonho, até acabar

Estou com olheiras.
Três noites sem dormir.
Finalmente consegui.
Uma temporada do Quixote em São Paulo.
Mas não do jeito certo.
Do jeito que dá.
Sem dinheiro.
Com um sonho pra realizar.
Com muito trabalho a fazer.
Correndo todos os riscos.
Arriscar.
E assim eu não durmo.
Pensando no que vai acontecer.
Nos apoios que temos que pedir.
Contando com a bondade de gente que queira nos ajudar.
Que ama a arte como nós e quer ver acontecer.
Acontecer.
Vai acontecer.
Nem acredito.
Vamos.
Que vamos.
Até acabar...

7.7.08

peter brook depois do tapa: outro tapa

Um tapa. Um tapa na cara daqueles que acham que o bom teatro está em uma super produção. Simplicidade. Essa é a lição.

Atores. Palco nú. E Samuel Becket. Quem precisa de mais? E assim, um grande encenador como Peter Brook passou por são Paulo dando uma lição. "O contrário do simples não é o complexo, mas o falso". E é só com simplicidade que se chega no âmago do que Beckett quer nos dizer: o homem, como ele é, nú e crú. Qualquer outra coisa pode tirar a atenção do tema central.

Três atores. Quatro pequenos textos. Poucas palavras. Ação física. Era no corpo daqueles atores que Beckett aparecia. Decrépito. Podre. Como o humano. Mais humano impossível.

É sempre bom ver Teatro acontecendo de verdade. Ontem eu vi. Fiquei feliz.

(Cena de Act Withou Words II, Samuel Beckett por Peter Brook)

3.7.08

o texto de todos os textos

"Não é monstruoso que esse ator aí,
Por uma fábula, uma paixão fingida,
Possa forçar a alma a sentir o que ele quer,
De tal forma que seu rosto empalidece,
Tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante,
A voz trêmula, e toda a sua aparência
Se ajusta ao que ele pretende? E tudo isso por nada!
Por Hécuba!
O que é Hécuba pra ele, ou ele pra Hécuba,
Pra que chore assim por ela?"
(W. Shakespeare,Hamlet - AtoII, cenaII)

É monstruoso. Se deparar com Hamlet. Descobrir. Que ele é o texto de todos os textos. Com tantos significados que, ao tentar descobrir o seu significado dentro dele a alma se perde. O que quero dizer com Hamlet? Não. Não é o mesmo que eu queria dizer com Hécuba. Nem com Sancho. Nem com a Nell. Nem com ninguém.

Eu quero dizer o que o Hamlet diz.Quem é você para que chore assim por Hamlet? Eu sou Aline Baba. Eu sou atriz. E o Hamlet me importa. Não é por nada. Se fosse por nada seria vazio. E o príncipe dos príncipes viria de mim se vingar.

O desafio. Talvez ele nunca seja cumprido. O de ser Hamlet. Como ele é. Não sei se algum dia verei alguém sendo. Acho que todos os caminhos levam pro "não ser".

A cada minuto no mundo, eu tenho certeza que tem alguém interpretando Hamlet. Buscando ser. E. Não sendo. E é por isso que esse texto é uma lenda. É por isso que Hamlet é O Personagem. Talvez incapaz de se personificar. Em todas suas nuances.

Acho que cada Hamlet no mundo deixa um pouco a desejar. Só o próprio príncipe da Dinamarca pode sê-lo.

O dia que alguém o for acabou o teatro. Porque acabou a busca. A busca que é ser ator.

Ah. Eu choro por tantas coisas Hamlet. Talvez e inclusive por Hécuba. Mas você tem razão. Que ator chora por ela? Se estando no palco não sabe onde está?
 
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