23.1.08

foi efêmero mas ficou

O Théâtre du Soleil passou pelo Brasil. Eu quase perdi. Não tinham mais ingressos. Chuva. Coragem. Um amiga guerreira. Fomos lá. Ariane Mnouchkine, como se fosse uma qualquer, passeava pelas pessoas e cuidava pessoalmente dos convidados. Pessoas esperançosas debaixo de um temporal pediam uma senha. E, apenas a diretora do grupo que todos os grupos do mundo queriam ser pessoalmente, deixou todos entrarem. Dando boas-vindas.

Ali já via que algo de epecial estava para acontecer. Paris é o sonho de todos
que fazem teatro. Lá ele acontece. Mas só estando naquela tarde no SESC
Belenzinho é que eu pude sentir essa força. Me senti pequena. Mas maravilhada.

Aquilo sim é um ritual. Trabalho pelo teatro. A própria diretora te recebe. As próprias pessoas do grupo te oferencem um jantar maravilhoso. Com direito a queijo,vinho e mel. Seis horas de espetáculo. Achei que ia ser cansativo. Tipo Teatro Oficina. Não. Quando acabou eu queria mais.

Um espetacúlo que fala do efêmero. De cenas cotidianas. De depoimentos pessoais. Tão líricos. Tão precisos. Tão fascinantes. Um tema tão simples que tinha tudo pra dar errado ou ficar incompreensível. A vida estava absurdamente ali, em cada cena. Um travesti que acende velas sozinho pra comemorar seu aniversário. A maravilhosa e cativante velhinha Madme. Perle que queria viajar para a Mesopotâmia. Uma criança vestida de tigre pulando num sofá. Um marido que morre e uma esposa que continua tomando a sopa. Tudo tão preciso. A legenda nem seria necessária.

O cenário. A arena. Pequenos pedaços de lares que giravam em pequenos palcos com rodinha. Eu daria qualquer coisa para ser uma daquelas pessoas que só empurrava os cenários. A cada momento eu pensava que podia ser uma daquelas personagens. Em um espetáculo com um tema tão individualista cada um do público podia ver um pedaço de si mesmo naqueles atores. Tão envolvente quanto um filme de cinema. Tão perfeito que parecia não estar ali.

Se aqui no Brasil um dia eu conseguir ver algo que de longe se assemelhe a essa experiência eu vou ter certeza que vale a pena. Quem sabe um dia.
Senti o que realmente é teatro. Nunca vou esquecer. Nunca será efêmero.

legenda:

foto 1 - Os pequenos palcos que giram

foto 2 - Juliana Carneiro da Cunha (Madme. Diaz) e Shaghayegh Beheshti (Perle)

Um comentário:

Kedma Franza disse...

O melhor que já vi na vida toda. Quase pensei em abandonar o teatro. Mas aí resolvi ir em busca de algo assim pra ser feliz na vida. Quando atingir esse patamar, posso morrer tranqüila.

 
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