Data importante. Dia do trabalhador.
Já que é feriado. Dia em que efetivamente as pessoas não deveriam trabalhar. É dia do meu protesto. Um protesto conceitual sobre o que é um trabalhador.
Porque só trabalha aquele que cedo madruga. Ganha pouco. Ganha muito. De sol a sol. Pra por um prato de arroz e feijão na mesa. Ou de caviar. Um empresário. Um médico. Um advogado. Um metalúrgico. Uma empregada doméstica. Parabéns trabalhadores.
Ator. Ator não. Ator não trabalha. Acorda tarde. Vai no bar em uma segunda-feira.
Clichês malditos. Que nos olham de viés. Sempre.
Protesto.
Ator tem insônia.
Ator trabalha de final de semana a noite.
Ator vai ao lazer a trabalho.
Mesmo quando vai ao cineminha está atento e analisando.
Ator no bar não descansa. Só fala de trabalho. Projetos futuros.
Ator passa o tempo livre estudando, lendo, livro, decorando texto.
Ator usa seu corpo e voz exaustivamente durante os ensaios.
E são eles seus único instrumentos de trabalho.
Ator ganha pouco.
Se desgasta muito.
Muito mais do que oito horas pro dia.
E o pior,
Ator, muitas vezes tem que trabalhar como um "trabalhador de verdade" para sobreviver. Acumulando todas as tarefas acima e ainda cedo-madrugando.
Experimente entrar na rotina de um dia de um ator. Eu troco com você. Fico no seu escritório e você, vai ensaiar, vai correr, vai ler, vai decorar um texto, vai cantar, vai construir um personagem, vai perder a voz, vai estar com dor de barriga e mesmo assim, vai ter que apresentar, impreterívelmente às 21h. Vai ganhar 10 reais por isso, porque naquele dia só cinco pessoas estarão na platéia. Os dez que ganhou você usará para tomar um lanche na padoca por volta das 2 da madrugada. E começará o outro dia do zero.
Seu trabalho é duro. Eu sei.
Só não venha dizer que eu não trabalho não.
Eu nunca falei isso de você.