31.5.08

ruta del don quijote

Se lá na Espanha ele passou por todos os lugares. De La Mancha para Toledo. De Toledo para salvar o Mundo. Aqui. Agora. Eu levo o Quixote pra onde eu quiser. Porque sim. Eu escolhi seguir seus passos. E não canso de repetir.

Da pequena e simpática Pouso Alegre. Quixote e Sancho. Com suas Calois Cecis. Vão para Mogis. Sim Mogis. Mogi Mirim. Mogi Guaçu.

Mais uma vez estávamos lá. Eu Octávio e René. Dessa vez fomos mais Quixotes ainda. De escola em escola. De sala em sala. Alunos com olhos brilhando pela surpresa de nos ver. Mais surpreso estava o Sancho. Com sua carinha assustada ao se dar conta de que ele realmente é o Sancho. Em cima da sua bicicletinha.

E a cada dia ser Sancho me traz uma alegria nova. E a cada dia tenho mais certeza de que seguir "el Quejada" é o melhor caminho de todas as rotas que se possa escolher.

É isso. Dias 13 e 14 de junho estaremos lá. No Centro Cultural de Mogi Guaçú.

Rodando. Rodando. Imaginando. Imaginando.



(meu Quixote, minha companheirinha mais querida: Mariana Viana)

27.5.08

não-lugares



Nesse domingo, dia 01 de junho, acontecerá um evento que promete ser muito legal. Infelizmente estarei viajando e não poderei estar presente. De corpo. Mas minha minhas vibrações estarão nesse lugar. Com certeza.

Trata-se de um encontro, como as organizadoras mesmo dizem, independente do que possa acontecer. "Não-lugares" vai reunir todos os tipo de expressão de arte movidos pelo tema título, ou não-movidos.

O importante é a iniciativa. Que quase nunca é vista na cidade. A possiblidade de passar uma tarde respirando música, fotografia, teatro e performance . No mesmo lugar. Aqui e agora.

Vale a pena conferir.

Em que lugar?
No TEATRO DENOY DE OLIVEIRA
a partir das 12h
Rua Rui Barbosa, 323 - Bela Vista

visitem o blog: http://www.naolugaresemvoce.blogspot.com/

24.5.08

é pra rir?

Procurando vídeos de comédia no youtube com alguns amigos do meu grupo e vendo o dvd do Terça Insana. Stand-up Comedy. Quadros bem feitos são muito legais. Agora a mim me parece que a ocilação da qualidade desse tipo de comédia ainda é muito grande.

Me desculpem todos se eu não consigo mais rir de piada de português. Da lerdedesa do baiano. Do seu filho viado. Fico pensando. E não consigo descobrir se o que vem antes é o ovo ou a galinha. Dilema eterno.

Eles fazem essas piadas porque o público gosta? Ou o público gosta porque não tem outro tipo de piada? Eu ainda prefiro produzir algo inovador do que ir atrás de ser bem recebido pelo público. E, convenhamos, no caso de uma boa piada não é tão difícil assim agradar.

Pelo menos eu acho que reproduzir o antiquado Zorra Total no palco é um descaso com a inteligência do espectador. Se nós não mostrarmos qualidade ao público onde é que eles vão refinar o humor?

As piadas têm que ser menos preconceituosas e mais conceituais. Têm que trazer alguma espécie de crítica construtiva para ser boa. Reafirmar o preconceito do povo é nojento.

Afinal todo o Brasil é muito negro, quase português, bem baiano, um pouco japonês, tem algo de judeu e é meio viado.

20.5.08

às favas com o conteúdo

Fico emocionada toda vez que vejo na capa da Vejinha algo relacionado com o teatro. Já sei que vou me revoltar. E que vou ter assunto para meu blog.

A dessa semana trazia a seguinte máxima: "Os Melhores Teatro da Cidade". Um júri de especialistas escolheu segundo uma série de critérios quais das 120 salas paulistanas são as melhores. Realmente os especialistas eram renomados. Pena que foram solicitados para falar sobre nada.

Quais salas oferecem mais conforto e bons serviços ao público. Ai. A tabela de votação era revoltante. Quesitos do bom teatro: visibilidade, poltronas, acústica, acessibilidade, banheiros, área de espera, atendimento, ar-condicionado e estacionamento. Ah sim! Tinha um item bobo que era "programação".

Que serviço de utilidade pública foi prestado. Agora sim. As pessoas irão ao teatro. Tem até uma sugestão que diz que o futuro está nos teatros dentro dos shoppings. Isso. Um Teatromark, por que não? Tem poltrona confortável, pipoca e bom estacionamento.

A promessa de um bom conteúdo nas salas para com a explicação do Sesc Anchieta (1º lugar da entrevista) que abriga o CTP, grupo do Antunes. Ok. Um exemplo em mil. O resto das justificativas são tão nojentas quanto 100mil pagantes em um ano assistiram "Às Favas Com os Escrúpulos". Que tem o nome mais literal do mundo para o que se vai apresentar no quesito respeito ao público.

Ainda tem uma notinha falando do Parlapatões. Mas do bar. Que abriga milhões de atores "wannabe" que não vão lá para assistir peças e sim aparecer. Não importa o que está passando nas salas.

Culmina falando nas pobres poltronas rasgadas do coitado do Maria della Costa.

Agora eu sei quais teatros frequentar. Pois não importa a qualidade da peça mas sim a qualidade do lugar.

Ah! Pobre de mim.

16.5.08

calderón de sonhos

A vida é sonho.
E os sonhos, sonhos são.
Se o teatro é sonho.
O teatro é vida.
Assim já dizia Calderón.
Não é real.
Não é ideal.
É sonho.
É vida.
Sombras que brilham.
Quando a cortina se abre.
Desesperadamente teatral.

13.5.08

no limite

A semana que passou foi uma semana de situações bem difíceis. Os percalços pelos quais temos que passar para atingir nossos objetivos não são poucos. O grande problema é você não poder trilhar sozinho esse caminho. Você precisa das pessoas. Sinto falta, às vezes, de ser mais solitária na busca. De repente seria mais fácil.

O fato é que não dá. Ninguém é solitário sozinho. É egoista. Já disse certa vez alguém, em algum caminho. E vivemos no limite. No limite entre o que queremos e o que os outros querem. Por estarem em um mesmo grupo a tendência é que as aspirações sejam quase as mesmas. Mas esse "quase" não é um pequeno problema.

Porque esse quase esbarra nos problemas mais triviais possíveis. Como escolher entre ganhar R$50,00 em um trabalho qualquer e chegar no horário marcado no ensaio. Esse tipo de escolha afeta um grupo inteiro. E esbarramos numa questão de sobrevivência do ator. Limite entre o que se quer fazer e o que se pode fazer.

Dinheiro para comer. Arte para alimentar os desejos. O sonho de que isso um dia nos dê comida de verdade.

Por enquanto temos que nos contentar com o limite. E ir andando na corda bamba. Ir fazendo o que dá. E o que não dá.

9.5.08

barroco

Uma vez estive no palácio de Versailles. Minha mãe e minha tia estavam junto. Mais afastadas de mim. Riam. Aproximei-me. Perguntei o motivo.

Apontando-me um quadro de Luiz XIV quando criança, disseram: é igual você! Muitos já me disseram que eu tenho rosto de quadro antigo. Mas vou fingir que acredito em destino e em reencarnação só para o post ficar mais emocionante.

Enfim. Parecia comigo mesmo. O Rei Sol. Não é a toa que Molière é uma das figuras do teatro que mais me encanta. Adoro a história dele. Afinal. Um dia eu fui seu padrinho.

Estudando o período Barroco essa semana por conta de um dos meus projetos. A Vida é Sonho. Calderón de La Barca. Eu tentei me transportar para a época. Imaginar como era essa orgia de símbolos. Essas apresentações na corte. É um pouco assim que você se sente quando visita um palácio como Versalles. Aquele lugar está cheio de energia de uma época que foi. Mas ainda parece pulsar ali.

Também. Se há algum lugar por onde passaram mais anjos e demônios do que possa calcular a nossa vã filosofia, é ali. A minha impressão é que tudo que passou por ali foi um grande sonho. Uma névoa em que não se sabia o que era representação. O que era realidade. Com todo seu glamour e sua nojeira também. Sempre lembro da história de que eles jogavam merda nos corredores que por ali permanecia durante dias. Saneamento nem um pouco básico.

Isso é Barroco. Sagrado e profano. Perfumado e fedido. Mas nunca simples. Sempre poluído e requintado. Com milhões de anjinhos e demoninhos olhando pra você.

Vou fazer uma regressão agora pra ver se me lembro como era estar lá. No palácio do Rei Sol. Dou uma alô para o Moliére por vocês!

5.5.08

kashmir bouquet

Um espetáculo cheiroso. Cheiroso? Sim. Um agradável perfume envolve o TUCA assim que adentramos a sala principal.

É. Mais uma do Ivaldo. Seus Cidadãos Dançantes. Uma cativante e misteriosa bailarina indiana. E muita. Muita gente diferente. Com a mesma energia. A energia forte e ao mesmo tempo doce. Que nem o perfume do teatro.

Segundo o Ivaldo Bertazzo, o espetáculo celebra a diversidade do gesto humano. Incrível alguém parar para pensar na importância do gesto. O gesto em sua diversidade unificadora. A India. A Africa. A Europa. Eu. Você. Brasil.

E aquelas pessoas. Dançando. Festa. Poucas vezes senti uma energia assim vinda de um palco. Talvez por não serem artistas profissionais a importância de estar lá representando se torne tão vibrante. Vibra. Vibra.

Sinto falta de um dia ter feito parte disso. Uma vez cidadão. Sempre dançante.


Ivaldo e Reinaldo - fados madrinha do movimento - Kashmir Bouquet - TUCA/SP

1.5.08

dia do não trabalho

Data importante. Dia do trabalhador.

Já que é feriado. Dia em que efetivamente as pessoas não deveriam trabalhar. É dia do meu protesto. Um protesto conceitual sobre o que é um trabalhador.

Porque só trabalha aquele que cedo madruga. Ganha pouco. Ganha muito. De sol a sol. Pra por um prato de arroz e feijão na mesa. Ou de caviar. Um empresário. Um médico. Um advogado. Um metalúrgico. Uma empregada doméstica. Parabéns trabalhadores.

Ator. Ator não. Ator não trabalha. Acorda tarde. Vai no bar em uma segunda-feira.

Clichês malditos. Que nos olham de viés. Sempre.

Protesto.

Ator tem insônia.
Ator trabalha de final de semana a noite.
Ator vai ao lazer a trabalho.
Mesmo quando vai ao cineminha está atento e analisando.
Ator no bar não descansa. Só fala de trabalho. Projetos futuros.
Ator passa o tempo livre estudando, lendo, livro, decorando texto.
Ator usa seu corpo e voz exaustivamente durante os ensaios.
E são eles seus único instrumentos de trabalho.
Ator ganha pouco.
Se desgasta muito.
Muito mais do que oito horas pro dia.

E o pior,

Ator, muitas vezes tem que trabalhar como um "trabalhador de verdade" para sobreviver. Acumulando todas as tarefas acima e ainda cedo-madrugando.

Experimente entrar na rotina de um dia de um ator. Eu troco com você. Fico no seu escritório e você, vai ensaiar, vai correr, vai ler, vai decorar um texto, vai cantar, vai construir um personagem, vai perder a voz, vai estar com dor de barriga e mesmo assim, vai ter que apresentar, impreterívelmente às 21h. Vai ganhar 10 reais por isso, porque naquele dia só cinco pessoas estarão na platéia. Os dez que ganhou você usará para tomar um lanche na padoca por volta das 2 da madrugada. E começará o outro dia do zero.

Seu trabalho é duro. Eu sei.

Só não venha dizer que eu não trabalho não.

Eu nunca falei isso de você.
 
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