29.12.08

encerrando 2008

E 2008 para mim foi o ano do Quixote. O ano em que descobri que tenho força e vontade para continuar no meu objetivo.

E meu espetáculo de formatura ainda... lá em junho de 2007. Desacreditado por mais da metade do elenco. Tomou forças e voou. E daquele dia em que fui cortar o cabelo com a Lito e o René, no qual, desesperançosos, achávamos que não ia dar pra continuar, guardo uma lembrança doce de vitória. Quem não acredtou foi embora. Quem acredita persiste.

E veio Pouso Alegre. Veio Mogi. E veio o Denoy de Oliveira com a Acheropita atrapalhando. E vieram pessoas. E pessoas se foram. E pessoas ficaram. E acreditaram. E veio a Lei Rouanet, que ainda clama por um patrocínio, mas eu me sinto feliz só por ter sido aprovada depois de 10 meses de agonia.

Nesse final de ano estou cansada. Triste. Com medo do que virá. Com medo do que posso perder. Já perdi coisas e pessoas importantes demais. Por tudo isso. Pelo Quixote.

Mas dia 13 de janeiro reestreamos no Centro Cultural São Paulo. Para mim a maior vitória que poderia ter tido com os nossos enfretamentos e moinhos passados. E eu só espero que não perca mais ninguém no caminho. Para não perder a esperança. De que moinhos são só moinhos e o vento sempre sopra.

Aos Imaginários todos. Que vieram. Que passaram. E principalmente aos três queridos que desde o começo estão comigo, eu dedico o último post do Digitando em 2008. Amo vocês com todas as minhas forças.

17.12.08

verão teatral

Ontem nos reunimos com todos os grupos que farão temporada em janeiro no Centro Cultural. E ainda com o próprio pessoal do Centro e o próprio Sebastião Millaré. Que é uma figura bem humoradíssima, adorei.

E aí? É aí que foi bonito ver tanta gente reunida pra fazer o teatro acontecer. E juntar esforços para tentar levar público ao teatro.

Aguardem a promoção Verão Teatral e aproveitem as férias nos prestigiando! hehehe

12.12.08

re-estréia

É tão deliciosa a espectativa de uma estréia. E de uma re-estréia parece mais ainda uma vitória. Porque aquilo que fizemos com tanto carinho vai ser visto de novo. E merece ser visto. E foi escolhido pra ser visto.

Correr atrás de novo de coisas. Renova. Mudar a arte da divulgação. E lembrar que aquilo vai acontecer de novo. E que já aconteceu tanto que algumas coisas estragaram e precisamos de novas. Novas máscaras. Novas molduras...

Os figurinos por equanto ainda ficam os mesmos. Furadinhos. Falta a verba. Mas um dia eles hão de rasgar... de tantas apresentações... e eu vou adorar.

Sensação boa.

2009 Quixote continua. Continua. E continua.

8.12.08

em prol de santa catarina...

Esse final de semana aconteceu um evento muito legal em São Paulo. Uma Virada Cultural extra para ajudar as vítimas das enchentes em Santa Catarina. É bonito ver artistas, com a vida tão dificil que eles levam, se unindo para ajudar as pessoas.

E claro. Eu fui lá. Com meu quilo de alimento. No Teatro Sérgio Cardoso. ver a edição extra do Jogando no Quintal. Adoro esses palhaços e essa idéia de competição de improvisações. é tão tão genuino. É tão simples. E tão divertido.

E eu fico lá. Literalmente pagando pau pra eles. Como eles conseguem improvisar daquele jeito? e fazer rir? E divertir crianças e adultos? Quando eu crescer eu quero ser um palhaço que sabe tudo...tudo sobre o ser humano...e poder brincar... e fazer da vida uma festa.

Jogando no Quintal - www.jogandonoquintal.com.br

3.12.08

a vida é uma criança

Por que eu não gosto de criança? Porque eu sou uma. Porque eu me irrito e disputo brinquedo com elas na loja de brinquedo. E também queria que a vida fosse feita de bola de sabão. E algodão doce.

Eu não gosto de criança porque não posso mais acreditar. Não como elas. Puramente. E chorar porque eu quero alguma coisa. E fazer birra. E ficar tudo bem... porque eu sou criança.

Mas sábado eu gostei das crianças. E elas gostaram de mim. Apresentei cenas pras elas no meio de uma festival de dança de coisículas de dois anos de idade. Que tinham medo de entrar no palco. E me chamavam de palhaça. E queriam me ver.

E foi bom. Porque eu precisava me sentir criança. E foi bom. bom. bom.

28.11.08

pra continuar o sonho...

É tão difícil. Lidar com as pessoas. Saber quem é verdadeiro. Quem é falso. E o teatro muitas vezes engana a gente. Manipula. E quase faz a gente desitir daquilo que a gente mais ama. E de quem a gente mais ama.

Eu enfrento meus moinhos. Mas é díficil não confundí-los com o vento. E de repente, não se sabe mais quem é vento, quem é moinho. Quem está lá porque ama. Quem acredita. Quem confia.

E é muita convivência. Pesada. E é muita crença de que todas pessoas são boas. Porque é pra isso que existe a esperança. E o teatro é a minha esperança. O coração parece que vai explodir. Por muitas lágrimas derramadas. E aquilo que se ama correndo risco.

Se seus olhos ficam mais verdes quando você chora. Eu prefiro eles castanhos. Na moldura da Dulcinéia do meu Quixote. Porque o Quixote é o meu sonho. Eu sou o Sancho. E vou seguí-lo. Sempre.

23.11.08

e eu chorei

Foi lindo.
Acho lindo.
Sentado no banco do Centro Cultural.
Esperando.
Surpresa.
Uma tocadora de flauta.
Um manipulador de bonecos.
E o boneco passava e cumprimentava as pessoas.
E os abençoava.
Punha a mão em nossas cabeças.
Paz.
Arte.
Um pouquinho de alegria.
Senti.
E não contive as lágrimas.
De óculos escuros.
Ninguém me viu.

21.11.08

video da ofélia


Subtração de Ophelia from Bruna De Araujo on Vimeo.

Hamlet. Ofélia. Não tem como eu não falar disso. esse vídeo é lindo. E a solução do cisne eu achei fantástica.

19.11.08

bufão

Um post feliz. Hoje. Porque aprendi com a kémada o que é um bufão e ela me apresentou esse vídeo.

Leo Bassi. Um palhaço que se veste como executivo desde que um "palhaço" começou a vender hamburgueres. Fantástico.

16.11.08

macú

Ontem eu fui no Macú assistir O Rei Lear. Eu me sinto bem lá. Apesar de todas as críticas à escola em si. Muitas verdadeiras. Muitas exageradas. Foi lá. E somente lá que eu decobri o melhor de mim. E pude encontrar pessoas que fizessem parte desse "melhor de mim". Algumas não fazem mais. Outras ficarão pra sempre. Mas o que importa é que todos, todos lá. Fizeram meu sonho crescer. Ainda fazem.

O Teatro 1 é quente. Eu quase desmaei. Mas foi bom. Acho válido ver um espetáculo de escola em que há uma semente de algo bom. Lá tinha. E não era só porque a peça era do meu diretor querido. Mas sim porque você via ali. Em alguns atores. O esforço de fazer um Rei Lear. Rei Lear. Não é fácil. Nunca é. E um Rei Lear no Macunaíma, com mulheres fazendo os papeis masculinos mais importantes. É quase impossível.

A Semente. A semente foi o que importou. Nos olhos de alguns, poucos. E na escola é assim. Uns sabem. Uns não tem certeza. E outros não tem a menor idéia do que estão fazendo lá. Mas isso é o bonito. O bonito é fazer no meio de tantas diferenças. Shakespeare acontecer.

É bom. É bom voltar ao Macú e relembrar. Minha semente. Que germinou. Brotou. E cresce a cada dia.

13.11.08

the lake

Como não se deprimir? Por mais feliz que se esteja. Quando o mote do seu ensaio é uma música assim...

My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake....




É a música mais triste do mundo. Não dá pra ficar feliz.

7.11.08

na ponta do pé

E. De repente. Abro uma caixa e tiro minhas sapatilhas de ponta aposentadas há sete anos. Quando saí do Cisne Negro.

A última vez que elas subiram ao palco foi em um grande baile. A Viúva Alegre. Adorava aquela valsa. E adorava dançar. E adoro. Mas hoje não mais como era antes. Na ponta. Sofrendo. Por não ser magra o suficiente. Nem encostar a perna na orelha. Hoje eu danço. Feliz.

Mas a vida é engraçada. Nos faz tirar do báu sentimentos. Recordações. E objetos que guardamos com carinho. Achei que nunca mais ia colocá-las. E eis que elas irão surgir. Na morte da Ofélia. E eu fiquei feliz. Porque ninguém vai se importar se eu sou magra. Se eu tenho colo de pé. As pessoas vão se importar com a cena. Com o meu teatro. Com o significado daquilo.

E depois disso. Minhas pontas poderão se aposentar de verdade. Felizes.

2.11.08

como dói

Como dói essa coisa de processo. E mesmo assim a gente vicia. Quer. Quer se machucar. Quer fazer da vida uma tragédia. Até estourar. Até querer se envenenar. Com o veneno do Rei Hamlet. Que corroí a pele. E doí. Desfigura.

Tenho saudades do Quixote. Cada vez mais.

Queria que já fosse janeiro.

Pros meus moinhos voltarem.

Vai relógio.

Faz o tempo passar.

28.10.08

ensaiando e andando

A sala de ensaio. Lugar de descobertas. A cada dia surge uma nova semente. De algo que ainda está por vir e ainda está muito pequeno. A cada descoberta. Um susto. Às vezes a sensação de que não vamos dar conta. Às vezes a euforia: tudo parece estar resolvido.

A emoção. O medo. As pessoas.

Nada melhor do que ensaiar. Melhorar. Chorar. Torcer.

Até o dia de tocar o terceiro sinal.

sala de ensaio de Hamlet

24.10.08

edital

Passei a Madrugada finalizando o projeto do Hamlet para o edital Myriam Muniz. Acho incrível como apenas escrevendo linhas sobre seu trabalho a esperanção revigora. Fiz o pdf da versão final e pensei: agora nós vamos ganhar!

Porque lá está escrito tudo o que você acredita. E se você acredita você acha que é muito bom. E se é muito bom, é para ganhar. Mesmo que daqui uma semana essa ilusão se perca. O momento de finalizaçãodo projeto é incrível: nosso filho.

E assim vamos. Escrevendo. Sonhando. Mandando. Pensando. E um dia alguém vai ler e achar tão bom quanto eu. E vai sonhar comigo. E fazer acontecer. Como deve ser.

21.10.08

não quero

Eu não quero mais.
Não me olha torto.
Horrível não trabalhar trabalhando.
E ter que dar algo em troca.
Como se fosse fácil trabalhar sem tostão.
E aguentar a cara daqueles que
acham que não é trabalho.
Quando se está trabalhando.
Trabalhando.
Vem aqui ser ator.
Discrimina.
Depois.
Quero ver.
Não quero mais.
Não me olha assim.

15.10.08

ação, ação e ação

Eu penso no teatro hoje fazendo. Não falando. O texto nos é dado. Da forma como é dado pra todos que os leem. Mas o que queremos dizer. Com aquelas mesmas palavras. Tantas vezes já ditas. Parte de nós. E o que somos nós senão aquilo que fazemos?

Agir. E ação mostra-se cada vez mais vinda antes do texto. De estímulos que partem de referências. Do clima proposto. Da atmosfera da peça. Sabendo o todo. E como queremos fazê-lo. O texto aparece naturalmente encaixado naquela idéia. Dando verdadeiro sentido à palavra encenação.

Decorar um texto sentado. Sem ter referência do que vai ser feito. Mais trava do que leva a diante. Individualiza a interpretação. De fora pra dentro vamos longe. Da ação ao texto. Para falar aquilo que o texto diz.

Como queremos dizer.

12.10.08

o jardim dos duendes

Que peça mais bonitinha. Essa que eu vi ontem. Infantil. Particularmente eu tenho medo de fazer peça para crianças. Crianças interagem sem pudores com os atores. E se você não estiver preapardo. Pode quebrar. Mas lá fui eu assistir para prestigiar um amigo imaginário.

O Jardim do Duendes é uma peça de muito bom gosto. Para crianças bem pequenas. Mas que encanta os adultos.

E foi muito prazeroso estar lá. Vale a pena conferir. E se divertir. Como uma pequena criança.

Que somos todos.

Viva o dia das crianças!! hehehe


O Jardim dos Duendes
até 23 de novembro
sábado e domingo (16H)
Espaço Cultural Pyndorama
R. Turiaçu, 481 - tel:3871-0373

10.10.08

hécuba

Aline Baba em Troianas, direção René Piazentin (Teatro Escola Macunaíma)


Ontem, na madrugada, em mais uma noite de insônia, me deu saudades do tempo em que fui Hécuba. A Rainha de Tróia. Certo que foi um espetáculo ainda na escola. Mas digamos que foi assim: definitivo.

E lembrei. Lembrei de todo o meu texto. Pelo menos o da cena inicial. E tive a impressão de que poderia representá-lo naquele momento.

Acho muito íncrível como eu não consigo esquecer os solilóquios da Hécuba. Acho que não é porque eram muito grandes. Mas pela força que eles tinham. Pela beleza das palavras.

O primeiro texto de teatro que eu li na vida foi Édipo Rei. Ainda no colégio. Quinta ou sexta série... não imaginava ainda que seria atriz. Mas aquele texto modificou algo em mim. Me apaixonei pelo Coro. Pela Mitologia. Por tudo.

Acho que de tudo que existe no teatro. O que eu mais gosto ainda é a Tragédia Grega. Apesar de acharem que eu lido melhor com textos de comédia. Não. A tragédia. A Mitologia. Ser aquilo que já foi. Antes de Cristo. E ainda hoje é muito forte. Realmente me impressiona. Dá sentido ao meu teatro.

Troianas. Apesar de ter sido feita com o texto de Jean Paul Sartre, era assim para mim. Eu estava na Guerra de Tróia. Falando. E ... "O silêncio não vale mais do que as palavras". Representar alguém dos tempos de Homero. É dar continuidade ao ciclo da vida.

"Navios, belos navios, há dez anos, aonde então íeis? Íeis bucar a grega Helena, esposa infiél de Menelau, e trazíeis a morte aos troianos..."

8.10.08

Fala comigo doce como o Minc ...

O Sr. Rouanet. Meu amigo de longa data. Não te atende no telefone. Ele só fala comigo por um site. Sem maiores explicações.

Lá no site do Sr. Minc, ele fala lá que eu vou receber uma carta. E é assim minha vida. Vendo site. Esperando carta. E triste. Por não ter uma palavrinha amiga sequer do senhor, Seu Rouanet.

Ontem fui até você. E o guardinha não me abriu o portão. Disse que eu estava fora do horário. Saí cabisbaixa...

Hoje. Sua amável secretária. Ao me ver em tal angústia respondeu incrivelmente a minha indagação de qual seria o próximo passo. Que doces palavras, músicas para meus ouvidos:

"Agora, você espera que vai sair no site e vão te enviar outra carta"

Fiquei emocionada...

Fala comigo. Seu Rouanet. Por favor. Te aguardo para um chá.

2.10.08

a passeio...

As pessoas passam pela vida
A passeio
A trabalho
Não param para pensar
Em um sentido
Que não existe
Por isso são felizes
Ou não...

O ator
Todo dia
Tenta encontrar um sentido
Pra vida
Pra arte
Pra seguir...

E não sabe o que é o bem
Não sabe o que é o mal
Porque tudo é humano
Tudo dói.

Uma dor dissipada
Que arrasa
Sem ter porquê.

Um dia feliz
Se torna duvidoso
Lá no fundo
O sentido ainda não existe
E nunca existirá
Sabemos
Mas não queremos saber.

Queria ter vindo a passeio.

1.10.08

ser palhaço

Palhacinhos no 1º Encontro Estadual de Cipeiros


Esse final de semana eu fui um palhaço.
E foi bom.
Fazer o povo rir no meio de uma Convenção chata.
Dar o recado que eles queriam de forma lúdica.
Me pintar.
Me divertir.
Uma forma boa de ganhar a vida.
Quem não quer ser pago para trazer alegria.
É um caminho...
No meio de tantas e tantas angústias.
A pausa para a alegria.

24.9.08

sugados pela maré


Senhora dos Afogados - Sesc Consolação


Nelson Rodrigues. Antunes Filho. Esse espetáculo não podia ser perdido. Eu fui. Fui e vi. Assisti. Atenta. A Encenação tava muito boa. Como não podia deixar de ser. Trabalho do Antunes. Visualmente muito bonito. Coro. Palco Nú. Cadeiras. Atores. Nada que ele não tenha feito antes. Mas bonito sim.

O que eu não esperava era ver Nelson Rodrigues falado como se fosse um texto de Moliére. Em tom de farsa. Não parecia Nelson. A tentativa de deixar o espetáculo impactante causou um estranhamento. Porque aquela linguagem não combinava com o universo rodrigueano. Atores bons. Mas com um tabalho vocal estridente. Tornou o espetáculo monótono. Fora do tom. O tom que se quer ao ver Senhora dos Afogados.

Queremos ser sugados pelo texto. E levados sem dó pela maré. Do oceano. Que. Implacável. Não devolve seus afogados. Faltou essa tensão. De ver a vida como ela é. Naquela família claramenete desestruturada. Como toda família.

Faltou. Faltou o trágico no Nelson. Mas não faltou uma boa encenação. Que para quem nunca assistiu Antunes, vale a pena. No final das contas foi bom. É sempre bom tentar. E nem sempre se acerta. Nem mesmo Antunes Filho.

22.9.08

spathódea

Vale a pena ir pra Zona Norte. Em um teatro abandonado no meio de uma rotatória gigante. Por tudo e por todos. Com luz de serviço que parece uma padaria.

Vale a pena. Pra ver ela. A Spirulina. E o seu domingo ficar feliz.

Um palhaço precisa de tão pouco. Parece tão simples. E ao mesmo tempo é tão difícil sê-lo. Que incrível ver um espetáculo onde uma espada comprada em uma loja de 1,99 se transforma em uma lição de ecologia. Com a idéia mais simples do mundo. Que contagia. Encanta. Faz rir. E pensar.

Pensar no quanto complicamos tudo. No quanto a vida pode ser mais simples. E mais gostosa. Leve. Solta. Levar tudo muito a sério faz só crescer rugas na testa. É bom desanuviar. E é lindo ver um palhaço.

Foi a primeira vez que vi a Silvia Leblon em cena. E já virei fã.

Quero morar numa nuvem de tule. Que pode ser cachoeira. Ou o que eu mais quiser.


Spirulina em Spathódea

(até 28/09 no Teatro Alfredo Mesquita)

19.9.08

o parto rouanet

Tempestades. Abonanças. E finalmente aprovação. Quase um bebê. Vai. Um bebê de 8 meses. Isso é um sinal? De que as coisas agora acontecerão prematuramente. Tomara.

Depois de tantos documenteos pedidos. Tantas mudanças na lei. E a descoberta de que tudo que foi exigido agora não é mais preciso. Porque muda ministro. Mudam as regras. E a gente fica no meio deste samba. O Seu Rouanet olhou pro Quixote.

Sensação boa. Medo ao mesmo tempo. Porque agora que a luta maior vai começar. A luta pra conseguir patrocínio. Pro sonho acontecer como ele deve ser. E não aos trancos e barrancos.

Depois de tantos monstro iremos conseguir? Eu acho que sim. Porque vontade não falta. Só não sei bem por onde começar.

Mas vamos.

Que vamos.

16.9.08

contaminado

Pode parecer loucura. De fato deve ser. Mas quando se está desenvolvendo um trabalho de pesquisa você acaba se contaminando com o clima proposto pela peça. A procura de um sentimento que não é seu é um buraco sem fim. Para dentro de si mesmo.

Um abismo. O Quixote me trazia uma sensação de renovação. O Hamlet me põe numa amargura sem fim. Num questionamento. Num peso. De tonelada. É. Eu não estou em Elsinor. Mas Elsinor está em mim.

E tudo aquilo me contamina. Os ensaios são difíceis. A leitura é dolorida. Angustiante. Todos estão ali em busca de auto-conhecimento. E de reconhecimento. Do grupo. Como um grupo. Como uma força de união que agora vai ter que surgir. Para por pra fora tudo isso. E exorcizar.

Quem Sabe.

Renovar de novo.

E que Elsinor volte a ser La Mancha.

11.9.08

a descoberta

Noite em claro.
Resolvi que eu tinha que descobrir.
Por quê o Hamlet é genial?

Eu não posso querer montar a peça só porque todos dizem que ela é genial. Isso virou meio que uma lei, desde que Shakeaspeare é Shakespeare. E meio que. Muitos estudiosos. Muitos atores. Muitos qualquer coisa. Discutem sobre isso. E. Banalizou.

Banalizou porque as pessoas simplesmente aceitam que ele é o texto de todos os textos e acabou. Sem realmente procurar o seu significado. Mas não " O Significado". E sim o seu significado pessoal. Para achar que aquilo é realmente "aquilo tudo".

Não. Eu nã ia dormir sem saber. Depois de ter lido tantas vezes o texto. Estava me sentido meio ridícula por não ter descoberto o Hamlet ainda. Li o que o Bloom acha dele, o que o Kott acha dele, o que a Barbara Heliodora acha dele. Mas o que eu acho dele?

Pra mim, ele ser um homem renascentista no meio de algo medieval não o torna Hamlet. Todos os gênios são a frente do tempo. O texto ser ambiguo e propenso a interpretações inumeráveis? Sim, esse é um caminho... mas não era lá ainda...

Foi quando me deparei com pequenas palavras no texto do Hamlet. Que me deram um medo absurdo. Um medo indescritível do Príncipe da Dinamarca pular do papel e vir falar comigo. Pessoalmente.

Sim. Era ali. O Hamlet sabe que ele não existe. Ele sabe que ele é um personagem de teatro. Ele sabe que tudo aquilo é uma grande encenação. E é isso que é o genial. Ele age o tempo como se ele fosse um ator. Fazendo o papel dele mesmo. ELE SABE. E a gente fica sem saber se ele é ou não é.

Horrorizei. O Metateatro é o genial do Hamlet.

Tudo estava calmo no seu reino. Ele estava revoltado sim com a morte do pai, e as bodas da mãe com o tio. Mas eis que surge o grande diretor da peça. O Espectro do seu pai. E impõe a ele um roteiro. Um roteiro que ele não quer cumprir. Porque sabe que vai dar merda.

São três peças de teatro dentro de um grande genial texto.

A primeira grande peça seria o roteiro de vingança imposto pelo Fantasma. A segunda peça é o "ator" Hamlet se fingindo de louco para ludibriar os espiões enquanto ele ganha tempo para decidir o que fazer. E a terceira peça, é a peça que surge de encenadores de atores dentro da peça. Como a solução para que Hamlet tenha certeza de que o tio é o assassino.

Não é lindo que uma peça, entre tantas dúvidas e confusões. Seja o sinônimo da verdade? É a encenação que faz o Rei Cláudio se denunciar. O Teatro. Salva o Teatro do Hamlet. Mas não o impede de morrer no final.

Hamlet é épico e é tragico ao mesmo tempo. É uma tragédia que tem um oráculo mal feito porque o ator principal contesta o roteiro e acaba morrendo. O gênio acaba caindo em uma armadilha tão infame que é impensável. Para ele.

Para mim é isso. E agora estou alimentada.
Porque nada é mais importante que o teatro.
E falar dele é o que me move.
Para você. Seja o Hamlet quem você quiser.

8.9.08

ofélia


O quanto para mim é difícil parecer frágil. Ofélia. Dói em mim. Dói ser alguém que não completa o movimento. Que vive a sombra da repressão. Que vive um amor fadado à tragédia. Que morre. Afogada por aquilo que poderia ser.

É mais fácil representar alguém mais forte que a gente. Difícil é encontrar em si mesmo a fragilidade. Expor isso. E chorar. E amar Hamlet. Amor tão grande. Que não nunca vai ser. De tão grande que é esse homem que se ama. O maior de todo o teatro.

Eu não queria amar o Hamlet.

Não é fácil ser Ofélia.

6.9.08

por quê?

Por que a cada passo dou um precipício se põe a minha frente?
A cada palavra dita.
A cada cena estudada.
A cada respiro.
Vê-se que o caminho é sem volta.
Mas.
Que caminho é esse?
Não me deixa em paz.
Cada pequena vitória traz consigo mil derrotas.
E olhares.
Olhares que me recriminam.
Olhares que não entendem.
E me angustiam.
Me corroem.
E continuo dando passos.
Na esperança de que depois do precipício.
Haja Paz.

4.9.08

pessoas vem e vão

Sempre que se fecha um ciclo chega-se a esta discussão.
Quem fica. Quem vai.
E sempre tem gente que vai. Segue outros coaminhos.
É estranho.
Por um tempo. Ou para sempre.
Fica aquela sensação de que está faltando alguém chegar no ensaio.
E chegam.
Chegam pessoas novas.
Que iluminam.
Novos encontros.
Ciclos.
Ciclos.
Triste por quem vai.
Mesmo.
Feliz por quem entra.
Muito.

30.8.08

fim de temporada

Fim.
Foi bom.
E não estou triste dessa vez.
Porque agora sei que é pra sempre.
E vamos tentar.
Mais e mais.
Imaginando.
Ventando.
Quixote é infinito.
Seu espírito.
Esperança.
Amor.
Teatro.
Vida.

(último final de semana de Quixote no Denoy de Oliveira, quem perder vai ter que esperar a próxima batalha, mas os Moinhos não param, não vão parar)

26.8.08

o espetáculo nunca está pronto

É incrível que, quanto mais ensaiamos uma peça, mais descobrimos nela coisas a melhorar. Isso que renova nossa vida teatral. A descoberta de todos os dias.

Achar que o trabalho está pronto. Feito. É deixar-se largar. Acomodar-se. As vezes deixamo-nos enganar por essa falsa ilusão de que o jogo está ganho. E aí é que se perde. Não somos e nunca seremos os favoritos de partida alguma.

Toda vez que uma peça vai ao palco, é como se fosse a primeira. O frio na barriga. A espectativa. Assim, com o vigor da primeira vez. Com a vontade de quem nunca fez. Porque um dia é diferente do outro. E temos que trabalhar para que ele seja melhor que o anterior. Não pior.

E melhor. E melhor ainda.

Igual nunca.

Pior. Nem pensar.

21.8.08

e o teatro pegou fogo

Domingo. Triste notícia. O teatro Cultura Artística, um dos mais tradicinais de São Paulo, incediou-se. É estranho pensar que nos dias de hoje ainda acontecem tragédias como essa. Incêndio em teatro parece coisa dos anos 70. Mas não. Tudo ainda é muito frágil.

Um teatro que recebe grandes produções. Em cinzas. Um pedaço da nossa história. Agora está fechado. Em 2008. Com brigada de incêndio. A vida ainda é frágil. A arte é a parte mais frágil dessa vida.

E no Brasil ainda é assim. Nossa história vira cinzas. E no dia seguinte ninguém se lembra. Teatros são abandonados. Aqueles que já são esquecidos...

Pelo menos o painel do Di Cavalcanti não sofreu danos. Mas se tivesse sofrido. Quem se importaria?

Arte frágil. Frágil vida.

18.8.08

conversa com o público

Esse final de semana, em especial, pude perceber a receptividade do público para com a peça.

O legal de estar apresentando no teatro Denoy de Oliveira é que ele é pequeno e acolchegante. Então o público fica bem pertinho da gente. Dá pra ouví-los, vê-los e olhá-los. Adoro olhar para o público.

Não sei onde começou essa quebra da quarta parede. Deve ter sido lá nos tempos áureos da Commédia dell'Arte. Suponho. Só sei que essa triangulação do Sancho com o público é uma alegria para mim.

Agora eu consigo enxergar as primeira filas. E olhar no olho das pessoas. E elas riem. E elas choram. E elas se sentem cúmplices do espetáculo.

Se você for me ver. Senta pertinho de mim pra eu te olhar, tá?

15.8.08

gambiarra, a festa

Finalmente tive um bom motivo para, num domingo a noite, no qual a maioria dos mortais assistem Fantástico, ir à Gambiarra. Era a comemoração da estréia da minha peça. E foi lindo ver as fotos da peça passando no telão, equanto os colegas teatrantes dançavam e se divertiam.

Todos os domingos essa festa anima a classe teatral. Que labutou o fim de semana inteiro. E é bonito ver tanta gente como a gente reunida. Lotado. Queria um dia ver toda essa "platéia" reunida para ver uma peça.

Uma festinha é um bom começo. Para unir a galera.

Cia. dos Imaginários na Gambiarra - gostinho de missão cumprida

http://gambiarra.afesta.nafoto.net/

13.8.08

depois da estréia

Pensei em escrever algo sobre o que aconteceu nesse final de semana.
Daí me deparei com essas palavras no blog do meu diretor, o Velho Marujo:

Bom ver tudo isso em cena outra vez.
Antes de tudo, é importante lembrar de onde viemos. Da estrada até aqui.
Quando a gente trabalha com teatro, na maioria das vezes é mais fácil encontrarmos motivos para parar do que para continuar. As pequenas questões pessoais, as dificuldades que minam nosso prazer, o próprio processo desgastante, nosso cansaço, nossa preguiça.
Os moinhos de sempre.
Estávamos lá, de novo. Concorrendo com a Achiropita. Concorrendo com a chuva. Concorrendo com o dia dos pais. Concorrendo com o frio.
"... e o bonito era que estava de olhos fechados, porque realmente dormia sonhando estar em batalha com um gigante."
A Aline fecha os olhos de verdade na cena do monstro.
E o bonito é que ela realmente sonha estar em batalha com um gigante.
E para poder sonhar também, deixo os meus abertos.
Que venham os moinhos, não tem problema.



Acho que não preciso escrever nada.


de olhos fechados, eu contra o gigante.

9.8.08

estréia

Hoje é dia de estréia. Dia único. Frio na barriga.
Depois de tanta luta chegamos lá.
Porque se Deus existe. Deus é Dom Quixote.
Muita merda para nós.
E Moinhos.
Sempre.

5.8.08

o ensaio

Fiquei muito feliz ao ir ontem ao Teatro Imprensa para prestigiar a performance da minha querida amiga Anna Cecília Junqueira na peça "O Ensaio". A segunda do grupo Tapa que vejo em menos de um mês.

Não é para menos. Impecável em suas montagens e no trabalho que faz com a interpretação dos atores. É uma prazer assistir pelas assim. Ainda mais quando elas falam sobre teatro. Me encanto com metateatro. A peça é um lindo exemplo de trabalho com o realismo. Muito bem feita.

O texto é muito sarcástico. Adoro. E os atores estão muito bem. Fortes. Com um presença incrível.

Vale a pena conferir.

Anna Cecília Junqueira em "O Ensaio"

maiores informações: http://www.bocadecenacomunicacao.com.br/oensaio/

1.8.08

hamlet japonês

Outro dia estava floreando sobre o Hamlet por aqui. Mas na verdade nunca pensei que realmente minha divagação sobre: em todo lugar do planeta tem alguém encenando o Hamlet; pudesse se materializar em um vídeo de uma encenação nipônica da peça.

Além do bizarro, tem coisas interessantes na interpretação japonesa. E mais uma vez se afirma a universalidade do texto. Para quem conhece, mesmo em japonês, identifica-se o que acontece. Hamlet por si só é um acontecimento.

Assistam o vídeo da cena do encontro com o fantasma do Rei Hamlet. no youtube tem mais cenas da peça.

29.7.08

a mandrágora

Realmente eu estava precisando de uma poção afrodisíaca teatral. Fui assistir "A Madrágora" do grupo Tapa na hora certa.

Toda hora. Nessa vida teatrante. Se põe em dúvida o seu papel. Pergunta-se se vale a pena. São tantos os pisões nos calos que uma hora você cansa. Chora. Pensa em desistir. Pensa em mudar de caminho. Tem medo. Muito medo.

É preciso tomar muitas doses de mandrágora para recobrar os ânimos.

Essa montagem está em cartaz desde 2005. Premiada. Aclamada. Nunca tive a oportunidade de ir. Mas essa era a hora certa pra mim. Estava cabisbaixa. E me deparei com um oásis. Dentro de um shopping. Teatro Nair Belo. Saudosa.

Ali eu vi uma comédia. Bem trabalhada. Muito bem trabalhada. O resultado de um trabalho de pesquisa. Não precisa me contar que foi um trabalho árduo. A limpeza de ações e propostas nos conta isso. E o resultado é de dar inveja. Tolentino é Tolentino.

Guilherme Sant'Anna. No papel de marido frouxo e traído. É a síntese de um bom trabalho de ator. Ali eu vi uma verdadeira construção de personagem. E dei risada. E me apaixonei. Pelos seus gestos. Seu andar. Maquiavél com certeza ficou feliz com a representação.

O teatro brasileiro agradece.


Guilherme Sant'Anna e Flavio Tolezani


mais informações: http://bocadecenacomunicacao.com.br/mandragora/

25.7.08

aline baba no lounge cultural

Pessoal, para quem perdeu minha entrevista no Lounge Cultural da All TV no dia 13/08, aqui estão alguns vídeos...sem mais delongas... assistam.







22.7.08

encenadores no youtube

Ontem, com a paralização do orkut, não sabia o que fazer na vasta madrugada que tinha pela frente. Do jeito que eu sou. Não posso ler, nem assistir um filme, porque tudo que prende minha atenção tira meu sono.

Resolvi fuçar no youtube. Confesso que ainda não sou muito familiarizada com ele. Daí que não dormi mesmo. Fiquei digitando nomes de grandes encenadores do século XX. E não é que encontrei vídeos deles no youtube. Não estou acostumada com tanta modernidade. Ficava com raiva quando lia nos livros coisas do tipo: "Em o Inspetor Geral, dirigido por Meyerhold, nem o ângulo de um cotovelo é deixado pro acaso". Eu queria ver o que o livro estava falando.

E agora descobri que algumas coisas antigas como essa pode ser que a gente encontre na Internet. Não achei o Inspetor geral. Mas achei coisas interessantes do Peter Brook, Grotowisky e outros. Vou colocá-los aqui para quem quiser apreciar.







20.7.08

o avassalador orgão público (parte 18 e meio)

Porque deveríamos confiar no Ministério da Cultura?
Se não podemos confiar no nosso país.
Se não podemos confiar.
Se não podemos.
Se não.
Se.

Esperançosa. Eu. Como já repeti algumas vezes. No dia 28 de fevereiro. Deixei o projeto do Quixote nas mãos de uma simpática mocinha na cinemateca.

Hoje. Dia 20 de julho. Constato: em quase cinco meses, eles não se deram ao trabalho de ler nosso projeto. Como assim? Explico.

Depois de toda aquela novela de documentos. Depois da não-análise da reunião do mês passado. Me deparo como o resultado da reunião deste mês:

Projeto retirado da pauta : Apresentação do responsável pela livre adaptação ou tradução do texto e a devida documentação de liberação dos direitos autorais.

Assim. Todos que lêem esse blog sabem. O espetáculo "Quixote'', não tem texto. É uma livre adaptação da obra original que por sinal, escrita em 1615, pelo saudoso Miguel de Cervantes, já é domínio público há pelo menos 350 anos.

O Sr. Rouanet hoje me fez duvidar de mim mesma. Fui buscar o projeto e ver se por engano eu havia esquecido de mencionar que o espetáculo era de imagens e ação física. Às vezes. Por ventura. Eu poderia ter me esquecido da proposta de linguagem do meu grupo. Vai saber.

Gostaria até. Aliás. Peço humildemente que analisem minhas palavras. Pra ver se realmente não dá apra enteder do que se trata o espetáculo.

Fielmente reproduzo o que está escrito, rubricado e datado no projeto:

FORMULÁRIO MECENATO
FOLHA 2 - JUSTIFICATIVA

A realização do espetáculo “Quixote” trará a tona um processo de criação baseado na apropriação de uma obra para a posterior leitura pessoal e única desta, como exemplo de um tratamento onde o resultado não é uma adaptação do original. O espetáculo pretende criar um discurso cênico inspirado na obra de Miguel de Cervantes, onde as personagens centrais são encaradas como arquétipos humanos, em situações que antes de se obrigarem a resumir ou adaptar o romance, reconstroem simbolicamente a trajetória de sonho, utopia e superação, o desejo de vencer as barreiras que a realidade impõe para transformá-la, trazendo, quem sabe, um pouco de sagrado à vida.

O Dom Quixote de Cervantes se dá a liberdade de olhar o mundo com outros olhos, de enxergar aquilo que nos é posto como definitivo de uma maneira transgressora, pois acredita naquilo que já não cremos mais: a transformação. E o sonho é o que pode haver de mais sagrado. É ele que nos redime da “obrigação” de sermos perfeitos, que nos inscreve na categoria dos “anti-heróis”: imperfeitos, patéticos às vezes, cheios de falhas e desejos impossíveis. Descemos da esfera dos seres superiores e descobrimos a coragem de revelar o que existe de mais humano: nossas imperfeições, medos, angústias, paixões... O “anti-herói” é o herói que se trai, que revela seu lado fraco, que muitas vezes é humilhado, massacrado, mas que defende o direito sagrado de crer que o mundo pode – ou ao menos deveria – ser diferente. E é bonito ver o herói se traindo. Porque é humano. E antes de mais nada, entendemos a obra de Cervantes como uma profissão de fé na humanidade.

Assim sendo, pensamos em um tratamento para o espetáculo que possa trazer uma atmosfera de fábula, uma criação livre da metáfora do que essa figura significa, em um processo colaborativo entre direção e elenco. Para valorizar a universalidade da obra e sua leitura simbólica, a opção é investir nos dados imagético e sonoro, sem o uso de texto: o elemento verbal, riquíssimo no original, é aqui traduzido em imagens que a nosso ver possibilitam leituras diversas e menos eruditas dos conflitos e temas evocados, tornando o espetáculo mais sensorial e menos logocêntrico. Dom Quixote é um exemplo de arquétipo literário no Ocidente – mesmo aqueles que nunca leram a obra de Cervantes possuem um entendimento do que esta figura representa. Quixote é praticamente a personificação da ruptura com padrões sociais vigentes, da crença nos ideais, na transgressão mais pura. Em meio a uma realidade que oprime e sufoca, o reencontro com nossa humanidade perdida é o que de mais contundente pode haver. Especialmente se este encontro se der através de uma linguagem despretensiosa, singela e onírica.

Acreditamos que o público poderá ter acesso a uma visão menos erudita de um clássico, que aproxima por colocar em primeiro plano seu entendimento mais essencial, deslocando o foco do elemento verbal e reorientando-o para o sensorial – consequentemente, tornando o poder de comunicação do espetáculo muito maior. Tendo em vista que o tratamento pensado possibilita a um só tempo uma elaboração estética e um discurso sinestésico que desobriga a platéia de referências prévias ou erudição, o público alvo potencial engloba tanto o universo específico, como interessados em teatro, como alunos da rede pública que terão a oportunidade de perceber como uma obra clássica pode ser entendida e assimilada, no que possui de fundamental, de uma forma menos ortodoxa e racional e mais poética e simbólica.

Agora me digam. Um espetáculo sem texto. Baseado no original. Deve pedir direito autoral pra quem?

E reitero que isto não tem o menos cabimento visto que, sendo a obra de domínio público, mesmo que tivesse algum texto na peça. Está descrito acima que a adaptção é do diretor e dos atores.

Eu, Aline Baba, libero a adaptação feita por mim mesma do meu próprio espetáculo.

Fui procurar alguma cláusula nova no projeto, já que cinco meses se foram... infelizmente. Porque alguma justificativa havia de ter. Encontrei as seguintes exigências que não existiam quando eu fui lá, naquele 28 de fevereiro de 2008...saudoso:

- Documentos comprobatórios de autoria/titularidade da obra quando se tratar de utilização de obra própria - com firma reconhecida. --- Não, a obra do Cervantes não é minha, o nosso espetáculo é próprio, mas baseado nela, e não temos um texto, só um roteiro de cenas, para comprovar, já que TEATRO NÃO É SÓ PALAVRA.

-Tradução juramentada, com cópia autenticada, para a utilização textos originais redigidos em outra língua. --- Essa cláusula por motivos óbvios, não me diz respeito.

Faço aqui uma enquete:
1) O Sr. Rouanet não leu direito meu projeto.
2) Eles não tem uma cláusula para espetáculos sem texto e não sabem o que fazer.
3) Eles realmente não se importam.

Seu Rouanet. Eu não quero mais você.

18.7.08

minha vida na arte

Primeiro Sinal.
Apaga a Luz.
Segundo Sinal.
Merda.
Terceiro Sinal.
Público entrando.
Gandhi.
Vira a página.
Luther King.
Vira a página.
Olhos fechados.
Sonhando com o gigante.
Paul.
Moldura.
Vento.
Que venta.
Coração bate.
Alleluiah.
Lágrima.
Aplausos.
Reverência.
Quixote.
Minha alma.

15.7.08

lounge cultural

Domingo dei minha 1ª entrevista na TV. Tudo bem que foi em um programa de internet e que só meus amigos me assisitiram. Mas estar ali com a sensação de estar falando pra muita gente, sobre seu trabalho, sobre a história do teatro em SP, reconfortou.

Acho que logo mais a entrevista saíra no youtube e eu coloco aqui para voces verem.

Obrigada Luiz pelo convite.

E vamos que vamos.

11.7.08

sonho é sonho, até acabar

Estou com olheiras.
Três noites sem dormir.
Finalmente consegui.
Uma temporada do Quixote em São Paulo.
Mas não do jeito certo.
Do jeito que dá.
Sem dinheiro.
Com um sonho pra realizar.
Com muito trabalho a fazer.
Correndo todos os riscos.
Arriscar.
E assim eu não durmo.
Pensando no que vai acontecer.
Nos apoios que temos que pedir.
Contando com a bondade de gente que queira nos ajudar.
Que ama a arte como nós e quer ver acontecer.
Acontecer.
Vai acontecer.
Nem acredito.
Vamos.
Que vamos.
Até acabar...

7.7.08

peter brook depois do tapa: outro tapa

Um tapa. Um tapa na cara daqueles que acham que o bom teatro está em uma super produção. Simplicidade. Essa é a lição.

Atores. Palco nú. E Samuel Becket. Quem precisa de mais? E assim, um grande encenador como Peter Brook passou por são Paulo dando uma lição. "O contrário do simples não é o complexo, mas o falso". E é só com simplicidade que se chega no âmago do que Beckett quer nos dizer: o homem, como ele é, nú e crú. Qualquer outra coisa pode tirar a atenção do tema central.

Três atores. Quatro pequenos textos. Poucas palavras. Ação física. Era no corpo daqueles atores que Beckett aparecia. Decrépito. Podre. Como o humano. Mais humano impossível.

É sempre bom ver Teatro acontecendo de verdade. Ontem eu vi. Fiquei feliz.

(Cena de Act Withou Words II, Samuel Beckett por Peter Brook)

3.7.08

o texto de todos os textos

"Não é monstruoso que esse ator aí,
Por uma fábula, uma paixão fingida,
Possa forçar a alma a sentir o que ele quer,
De tal forma que seu rosto empalidece,
Tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante,
A voz trêmula, e toda a sua aparência
Se ajusta ao que ele pretende? E tudo isso por nada!
Por Hécuba!
O que é Hécuba pra ele, ou ele pra Hécuba,
Pra que chore assim por ela?"
(W. Shakespeare,Hamlet - AtoII, cenaII)

É monstruoso. Se deparar com Hamlet. Descobrir. Que ele é o texto de todos os textos. Com tantos significados que, ao tentar descobrir o seu significado dentro dele a alma se perde. O que quero dizer com Hamlet? Não. Não é o mesmo que eu queria dizer com Hécuba. Nem com Sancho. Nem com a Nell. Nem com ninguém.

Eu quero dizer o que o Hamlet diz.Quem é você para que chore assim por Hamlet? Eu sou Aline Baba. Eu sou atriz. E o Hamlet me importa. Não é por nada. Se fosse por nada seria vazio. E o príncipe dos príncipes viria de mim se vingar.

O desafio. Talvez ele nunca seja cumprido. O de ser Hamlet. Como ele é. Não sei se algum dia verei alguém sendo. Acho que todos os caminhos levam pro "não ser".

A cada minuto no mundo, eu tenho certeza que tem alguém interpretando Hamlet. Buscando ser. E. Não sendo. E é por isso que esse texto é uma lenda. É por isso que Hamlet é O Personagem. Talvez incapaz de se personificar. Em todas suas nuances.

Acho que cada Hamlet no mundo deixa um pouco a desejar. Só o próprio príncipe da Dinamarca pode sê-lo.

O dia que alguém o for acabou o teatro. Porque acabou a busca. A busca que é ser ator.

Ah. Eu choro por tantas coisas Hamlet. Talvez e inclusive por Hécuba. Mas você tem razão. Que ator chora por ela? Se estando no palco não sabe onde está?

30.6.08

peter brook no tapa

Se você está sabendo só agora lendo meu blog que no próximo final de semana vai ter apresentação do Peter Brook, quatro peças curtas do Beckett, no Sesc Santana, desista. Você não vai ver nem sombra de um ingresso.

Sexta-feira. 14h. Os ingressos começeçaram a ser vendidos. Sexta-feira. 14:13h. Os ingressos estavam esgotados.

Eu não podia ir comprar. Abri algumas frentes de possibilidades. Amigos camuflados se instalaram em Sescs estratégicos da cidade. Antes das duas horas já tinham filas com senha. Em trincheiras, eles esperavam a vez de atacar. Um foi abatido. Outro tomou tiro na perna. Mas. Ufa. A Tenente Kedma, na região central, garantiu a vitória.

Bom. Pelo menos entramos no clima Beckettiano pós Segunda Guerra. Graças a Kedma eu tenho meu ingresso. Prometo contar aqui no Digitando como foi essa empreitada.

Aguardem.

26.6.08

tubaína zero

A banda Tubaína. A mais conhecidas das bandas desconhecidas. Coincidentemente eu a conheço porque namoro o vocalista. Está entrando agora numa fase light. Ops. Zero.

Cansados de tocar em bares soturnos. Respirando fumaça de cigarro e aguentando gente bêbeda quebrando garrafas no chão. Resolveram dar um tempo com o rock. Mas com o bom humor não.

Vocês devem estar se perguntando: Mas o que a banda do namorado dela tem a ver com o teatro? Acalmem-se. Sim. É um show de música. Mas as músicas são verdadedeiras esquetes. Com direito a pequenas performances. E. Garanto. Você vai rir. de piadas inteligentes.

Inspirados em bandas como Lingua de Trapo e Premê. Tubaína Zero. O novo projeto do Tubaína. Só não vai ter rock. Mas como eles mesmos dizem, é um show para curtir, sem preconceitos, metal, punk rock, hardcore, ska, surf music, rock-a-billy, MPB, jazz, samba-de-breque, chorinho e tango.

Esse sábado. Só perde quem quer.

informações no site http://www.tubaina.com.br/

24.6.08

projetos pra lá e pra cá

Hoje me encontro num mar de projetos. Quem acha que ser ator é só ir ao ensaio e chegar duas horas antes do espetáculo está muito enganado.

Por trás há um árduo trabalho para se conseguir realizar o intento. Páginas e páginas escritas com idéias, planos, estruturas, currículos, trabalhos anteriores, orçamentos e esperança. Digno de um bom administrador. Ainda bem que não faltei às aulas de contabilidade na faculdade.

Tudo isso para se conseguir um lugar ao sol. Um espaço para apresentar. Verba para realizar.

O orgulho de ver seu sonho impresso no papel não tem preço. Esse volume de páginas traz consigo uma esperança materializada. Alguém vai pegar. Alguém vai ler. Alguém vai gostar. E aquilo não vai evaporar como as palavras.

É como se um pedacinho da gente no palco estivesse ali. Seria tão bom se ao ler, a pessoa conseguisse vizualizar um pouquinho do amor com que aquilo foi realizado. É tão difícil tentar convencer alguém de que seu trabalho é bom antes dele ser visto. Dá medo. Mas é assim que acontece.

Afinal não podemos todos vestir nossos figurinos e sair pelos teatros afora. Tocando a campainha. Surpresa. Temos uma peça peça pra apresentar.

23.6.08

o ameaçador orgão público - a saga

Agora me emputeci.

Foi em fevereio. A primeira vez que estive no ministério da Cultura. Já passou quase meio ano. E nada.

Esse mês veio a esperança:

Providência tomada
13/06/2008 Pauta/Aguarda Reunião
Projeto incluído na pauta da 153ª reunião da CNIC à realizar-se em junho de 2008. 13/06/2008.


Pôxa. Agora vai.

Não foi.

Eles tinhas 700 projetos pra analisar. Analisaram 632. E o Quixote... Devia estar no fim da pilha. Deu preguiça. Não analisaram.

E eu fico aqui. Vomitando de ansiedade.

Maldizendo o Seu Rouanet sem parar.

Daqui a pouco o Quixote dá a volta ao mundo. E o Sr. Ministério da Cultura nem toma conhecimento.

17.6.08

lição de uma batalha quase perdida

Um cavaleiro andante não vence todas as batalhas.
Um cavaleiro andante é ignorado por muitos.
Um cavaleiro andante sobe em aindames quando ninguém mais o quer.

E assim Quixote passou por Mogi Guaçu. Em um teatro muito longe do ideal. Não pela suas instalações. Mas pela disposição das pessoas ali presentes. Eu nunca recomendaria o Centro Cultural dessa cidade. Que trata o elenco com patadas. Que manda um técnico de luz que não sobe em aindame. Que faz os atores subirem seis metros para afinar a luz.

O responsável nunca apareceu para nem ao menos cumprimentar. Varremos o palco sujo. Fizemos a peça com a nossa diginidade. Ao final. Uma mulher armário escurraçou a gente de lá. Mandando a gente carregar até tijolos. Com nojo da gente. Muito puta por estarmos ali ocupando aquele lugar.

Não Quixote. Não desanime. Você passou por truculentas dificuldades. Perdeu os dentes. Mas ali na platéia. Pequena que seja. Pela falta de empenho das pessoas em divulgar. Lá. Teve algumas pessoas que te olharam com cumplicidade. Jovens pessoas. Jovens alunos. Que de braços abertos te receberam. E se uma pessoa ficou tocada. Fez valer a pena.

Seguimos a batalha.

O vento não para.




(ciclo da vida, esperança - Quixote em Mogi Guaçu)

12.6.08

a neta do chaplin


Aurélia se moe.
Vira cinzas.
Renasce.
Como o avô eterno.

Se tem algo que é fato é que todo mundo queria ter um âvô como Charles Chaplin. Eu tinha que conferir de perto os frutos dessa família. O pai do clown. A pai do lúdico. Acho que meu maior ídolo.

Foi assim que me encaminhei esperançosa para o Sesc Vila Mariana. Afim de sentir ao vivo o sopro de Carlitos. E foi exatamente assim que eu me senti ao ver o espetáculo. De alguma forma ele estava lá personificado.

Sem dizer uma palavra. L'Oratória d'Aurélia disse tudo o que eu precisava saber. Que sim. Só é preciso sentir. Que o teatro pode ser feito de imagens e músicas. Bem construídas. E que. Mesmo sem aparentar qualquer sentido. Faz sonhar.

No mundo de Aurélia. O rato come o gato. As cortinas viram personagens e têm até filhotes. Os figurinos falam. Dançam sozinhos. E a interação com os objetos de cena é viceral.

E de repente você se emociona sem saber porque. Depois percebe que dois bailarinos dançando uma espécie de tango bizarro tem os pés "dez pras duas" como um certo vagabundo querido. Tudo aquilo tem um pouco de nossos sonhos. Um pouco de Carlitos. Um pouco de tudo que amamos.

Supreendente.

Como um trenzinho de brinquedo que solta fumaça e faz um buraco em nosso estômago para passar. Um tunél. Em círculos. A cortina despenca. E o trem não para de passar.

De cabeça para baixo?
A cortina eleva Aurélia e a pipa a empina.

9.6.08

ansiedade

Se há uma palavra perseguidora é essa. Mesmo quando tudo parece estar bem ela chega e arrasa. Como se escolher ser atriz trouxesse de brinde a ansiedade.

Ela chega porque nada acontece. Ela chega porque tudo acontece. Ela chega porque o novo está por vir. Ela chega porque não se sabe o que virá. E se virá...

Porque eu sei que sou atriz. Mas sustentar esse papel é uma tarefa bem difícil. Porque eu sei que sou o que não tem firmeza. Sou volátil. Vou e venho. E a única certeza é que nada é certo. Tão longe estou da matemática.

E essa angústia no meio do peito. Chorar. Sair correndo. Gritar. E querer que tudo aconteceça ao mesmo tempo. Tendo medo que desse tudo não se dê conta. E perder. Evaporar.

Às vezes me sinto como Carolina. Sem me dar conta do tempo passando pela janela. Outras vezes me sinto como se quisesse ser mais rápida que o tempo. Por isso que o tempo no palco me conforta. Porque é irreal. Corre conforme eu quero. Para. Vai.

Ansiedade.

Quero dormir.

Só acordar quando chegar lá.

5.6.08

quem aqui trabalha de graça?

Hoje é dia de protesto no Digitando Teatro. Talvez seja um pouco mal-educada. Mas, como diria alguém que eu muito conheço: Eu realmente não me importo.

Eu já falei, re-falei, berrei e até ilustrei para os mais desavisados. Ser ator é trabalho. Ser músico é trabalho. Ser artista é trabalho. Se é pra ter hobbie, com toda licença poética para Carla Perez, só se for de seda.

Portanto, caríssimos, a não ser que você seja convidado. NÃO. Não peça para entrar de graça. Se seu chefe pedisse pra você trabalhar sem ganhar aposto que não iria concordar. Esse péssimo hábito de querer conseguir "se divertir" de graça é um dos fatores que depreciam nossa profissão.

E concordemos que já existem meios suficientes para pagar menos em uma entrada de teatro. Afinal. O tenebroso ato de falsificar carteirinhas de estudante. Maior fator "ovo-galinha" da alta de ingressos. Já está devidamente difundido. E ainda que o circuito off de teatro nem é tão caro assim e muitas vezes dá desconto de meia-entrada inclusive para classe teatral.

Se você é nosso fã: pague. Só assim você realmente estará contribuindo para que o show possa continuar. Se eu deixar você entrar. Pode ser a última vez. E acho que ninguém quer que isso aconteça.

Cacilda Becker já disse.

Quem sou eu para desmentir?

"Não me peça de graça a única coisa que tenho pra vender"

Amém.

3.6.08

ilustre desconhecido

Esse último final de semana descobri um pequeno pedaço do Paraíso. Viajando despretensiosamente com meu namorado. Sem saber ao certo a importância do lugar para onde estávamos indo. Só queríamos comemorar nosso aniversário de namoro em um hotel bacana.

Me deparei então com a Fazenda Pinhal. Lugar incrível. E o mais impressionante. Um pedaço vivo de nossa história. Sim. É uma fazenda dos tempo do Café, que pertencia ao Conde de Pinhal. Patrimônio Histórico. Pasmem. Ainda produz café com o maquinário da época. Arrepiei ao ver aquilo funcionando...

E lá estava o Paulo e eu. Dormindo no quarto da Condessa do Pinhal. Respirando um pedaço da nossa história.

Refletir me fez muito. Nos muitos lugares desconhecidos por mim. E por muita gente. A História do Brasil é ainda muito pouco explorada. Lugares como esses, perdidos no Estado de São Paulo e por aí afora, deve ter aos montes. E se ninguém se der conta tudo isso vai se perder. No limbo.

Nossa Cultura é tratada como um nada. Nós mesmos não a damos o devido valor. E ficamos sofrendo. Sofrendo. Quando poderíamos saber da existência de um pequeno paraíso perdido no nosso caos.


Da janela do quarto da Condessa uma reflexão sobre nossa história e cultura:

PERDIDAS NA IMENSIDÃO.

31.5.08

ruta del don quijote

Se lá na Espanha ele passou por todos os lugares. De La Mancha para Toledo. De Toledo para salvar o Mundo. Aqui. Agora. Eu levo o Quixote pra onde eu quiser. Porque sim. Eu escolhi seguir seus passos. E não canso de repetir.

Da pequena e simpática Pouso Alegre. Quixote e Sancho. Com suas Calois Cecis. Vão para Mogis. Sim Mogis. Mogi Mirim. Mogi Guaçu.

Mais uma vez estávamos lá. Eu Octávio e René. Dessa vez fomos mais Quixotes ainda. De escola em escola. De sala em sala. Alunos com olhos brilhando pela surpresa de nos ver. Mais surpreso estava o Sancho. Com sua carinha assustada ao se dar conta de que ele realmente é o Sancho. Em cima da sua bicicletinha.

E a cada dia ser Sancho me traz uma alegria nova. E a cada dia tenho mais certeza de que seguir "el Quejada" é o melhor caminho de todas as rotas que se possa escolher.

É isso. Dias 13 e 14 de junho estaremos lá. No Centro Cultural de Mogi Guaçú.

Rodando. Rodando. Imaginando. Imaginando.



(meu Quixote, minha companheirinha mais querida: Mariana Viana)

27.5.08

não-lugares



Nesse domingo, dia 01 de junho, acontecerá um evento que promete ser muito legal. Infelizmente estarei viajando e não poderei estar presente. De corpo. Mas minha minhas vibrações estarão nesse lugar. Com certeza.

Trata-se de um encontro, como as organizadoras mesmo dizem, independente do que possa acontecer. "Não-lugares" vai reunir todos os tipo de expressão de arte movidos pelo tema título, ou não-movidos.

O importante é a iniciativa. Que quase nunca é vista na cidade. A possiblidade de passar uma tarde respirando música, fotografia, teatro e performance . No mesmo lugar. Aqui e agora.

Vale a pena conferir.

Em que lugar?
No TEATRO DENOY DE OLIVEIRA
a partir das 12h
Rua Rui Barbosa, 323 - Bela Vista

visitem o blog: http://www.naolugaresemvoce.blogspot.com/

24.5.08

é pra rir?

Procurando vídeos de comédia no youtube com alguns amigos do meu grupo e vendo o dvd do Terça Insana. Stand-up Comedy. Quadros bem feitos são muito legais. Agora a mim me parece que a ocilação da qualidade desse tipo de comédia ainda é muito grande.

Me desculpem todos se eu não consigo mais rir de piada de português. Da lerdedesa do baiano. Do seu filho viado. Fico pensando. E não consigo descobrir se o que vem antes é o ovo ou a galinha. Dilema eterno.

Eles fazem essas piadas porque o público gosta? Ou o público gosta porque não tem outro tipo de piada? Eu ainda prefiro produzir algo inovador do que ir atrás de ser bem recebido pelo público. E, convenhamos, no caso de uma boa piada não é tão difícil assim agradar.

Pelo menos eu acho que reproduzir o antiquado Zorra Total no palco é um descaso com a inteligência do espectador. Se nós não mostrarmos qualidade ao público onde é que eles vão refinar o humor?

As piadas têm que ser menos preconceituosas e mais conceituais. Têm que trazer alguma espécie de crítica construtiva para ser boa. Reafirmar o preconceito do povo é nojento.

Afinal todo o Brasil é muito negro, quase português, bem baiano, um pouco japonês, tem algo de judeu e é meio viado.

20.5.08

às favas com o conteúdo

Fico emocionada toda vez que vejo na capa da Vejinha algo relacionado com o teatro. Já sei que vou me revoltar. E que vou ter assunto para meu blog.

A dessa semana trazia a seguinte máxima: "Os Melhores Teatro da Cidade". Um júri de especialistas escolheu segundo uma série de critérios quais das 120 salas paulistanas são as melhores. Realmente os especialistas eram renomados. Pena que foram solicitados para falar sobre nada.

Quais salas oferecem mais conforto e bons serviços ao público. Ai. A tabela de votação era revoltante. Quesitos do bom teatro: visibilidade, poltronas, acústica, acessibilidade, banheiros, área de espera, atendimento, ar-condicionado e estacionamento. Ah sim! Tinha um item bobo que era "programação".

Que serviço de utilidade pública foi prestado. Agora sim. As pessoas irão ao teatro. Tem até uma sugestão que diz que o futuro está nos teatros dentro dos shoppings. Isso. Um Teatromark, por que não? Tem poltrona confortável, pipoca e bom estacionamento.

A promessa de um bom conteúdo nas salas para com a explicação do Sesc Anchieta (1º lugar da entrevista) que abriga o CTP, grupo do Antunes. Ok. Um exemplo em mil. O resto das justificativas são tão nojentas quanto 100mil pagantes em um ano assistiram "Às Favas Com os Escrúpulos". Que tem o nome mais literal do mundo para o que se vai apresentar no quesito respeito ao público.

Ainda tem uma notinha falando do Parlapatões. Mas do bar. Que abriga milhões de atores "wannabe" que não vão lá para assistir peças e sim aparecer. Não importa o que está passando nas salas.

Culmina falando nas pobres poltronas rasgadas do coitado do Maria della Costa.

Agora eu sei quais teatros frequentar. Pois não importa a qualidade da peça mas sim a qualidade do lugar.

Ah! Pobre de mim.

16.5.08

calderón de sonhos

A vida é sonho.
E os sonhos, sonhos são.
Se o teatro é sonho.
O teatro é vida.
Assim já dizia Calderón.
Não é real.
Não é ideal.
É sonho.
É vida.
Sombras que brilham.
Quando a cortina se abre.
Desesperadamente teatral.

13.5.08

no limite

A semana que passou foi uma semana de situações bem difíceis. Os percalços pelos quais temos que passar para atingir nossos objetivos não são poucos. O grande problema é você não poder trilhar sozinho esse caminho. Você precisa das pessoas. Sinto falta, às vezes, de ser mais solitária na busca. De repente seria mais fácil.

O fato é que não dá. Ninguém é solitário sozinho. É egoista. Já disse certa vez alguém, em algum caminho. E vivemos no limite. No limite entre o que queremos e o que os outros querem. Por estarem em um mesmo grupo a tendência é que as aspirações sejam quase as mesmas. Mas esse "quase" não é um pequeno problema.

Porque esse quase esbarra nos problemas mais triviais possíveis. Como escolher entre ganhar R$50,00 em um trabalho qualquer e chegar no horário marcado no ensaio. Esse tipo de escolha afeta um grupo inteiro. E esbarramos numa questão de sobrevivência do ator. Limite entre o que se quer fazer e o que se pode fazer.

Dinheiro para comer. Arte para alimentar os desejos. O sonho de que isso um dia nos dê comida de verdade.

Por enquanto temos que nos contentar com o limite. E ir andando na corda bamba. Ir fazendo o que dá. E o que não dá.

9.5.08

barroco

Uma vez estive no palácio de Versailles. Minha mãe e minha tia estavam junto. Mais afastadas de mim. Riam. Aproximei-me. Perguntei o motivo.

Apontando-me um quadro de Luiz XIV quando criança, disseram: é igual você! Muitos já me disseram que eu tenho rosto de quadro antigo. Mas vou fingir que acredito em destino e em reencarnação só para o post ficar mais emocionante.

Enfim. Parecia comigo mesmo. O Rei Sol. Não é a toa que Molière é uma das figuras do teatro que mais me encanta. Adoro a história dele. Afinal. Um dia eu fui seu padrinho.

Estudando o período Barroco essa semana por conta de um dos meus projetos. A Vida é Sonho. Calderón de La Barca. Eu tentei me transportar para a época. Imaginar como era essa orgia de símbolos. Essas apresentações na corte. É um pouco assim que você se sente quando visita um palácio como Versalles. Aquele lugar está cheio de energia de uma época que foi. Mas ainda parece pulsar ali.

Também. Se há algum lugar por onde passaram mais anjos e demônios do que possa calcular a nossa vã filosofia, é ali. A minha impressão é que tudo que passou por ali foi um grande sonho. Uma névoa em que não se sabia o que era representação. O que era realidade. Com todo seu glamour e sua nojeira também. Sempre lembro da história de que eles jogavam merda nos corredores que por ali permanecia durante dias. Saneamento nem um pouco básico.

Isso é Barroco. Sagrado e profano. Perfumado e fedido. Mas nunca simples. Sempre poluído e requintado. Com milhões de anjinhos e demoninhos olhando pra você.

Vou fazer uma regressão agora pra ver se me lembro como era estar lá. No palácio do Rei Sol. Dou uma alô para o Moliére por vocês!

5.5.08

kashmir bouquet

Um espetáculo cheiroso. Cheiroso? Sim. Um agradável perfume envolve o TUCA assim que adentramos a sala principal.

É. Mais uma do Ivaldo. Seus Cidadãos Dançantes. Uma cativante e misteriosa bailarina indiana. E muita. Muita gente diferente. Com a mesma energia. A energia forte e ao mesmo tempo doce. Que nem o perfume do teatro.

Segundo o Ivaldo Bertazzo, o espetáculo celebra a diversidade do gesto humano. Incrível alguém parar para pensar na importância do gesto. O gesto em sua diversidade unificadora. A India. A Africa. A Europa. Eu. Você. Brasil.

E aquelas pessoas. Dançando. Festa. Poucas vezes senti uma energia assim vinda de um palco. Talvez por não serem artistas profissionais a importância de estar lá representando se torne tão vibrante. Vibra. Vibra.

Sinto falta de um dia ter feito parte disso. Uma vez cidadão. Sempre dançante.


Ivaldo e Reinaldo - fados madrinha do movimento - Kashmir Bouquet - TUCA/SP

1.5.08

dia do não trabalho

Data importante. Dia do trabalhador.

Já que é feriado. Dia em que efetivamente as pessoas não deveriam trabalhar. É dia do meu protesto. Um protesto conceitual sobre o que é um trabalhador.

Porque só trabalha aquele que cedo madruga. Ganha pouco. Ganha muito. De sol a sol. Pra por um prato de arroz e feijão na mesa. Ou de caviar. Um empresário. Um médico. Um advogado. Um metalúrgico. Uma empregada doméstica. Parabéns trabalhadores.

Ator. Ator não. Ator não trabalha. Acorda tarde. Vai no bar em uma segunda-feira.

Clichês malditos. Que nos olham de viés. Sempre.

Protesto.

Ator tem insônia.
Ator trabalha de final de semana a noite.
Ator vai ao lazer a trabalho.
Mesmo quando vai ao cineminha está atento e analisando.
Ator no bar não descansa. Só fala de trabalho. Projetos futuros.
Ator passa o tempo livre estudando, lendo, livro, decorando texto.
Ator usa seu corpo e voz exaustivamente durante os ensaios.
E são eles seus único instrumentos de trabalho.
Ator ganha pouco.
Se desgasta muito.
Muito mais do que oito horas pro dia.

E o pior,

Ator, muitas vezes tem que trabalhar como um "trabalhador de verdade" para sobreviver. Acumulando todas as tarefas acima e ainda cedo-madrugando.

Experimente entrar na rotina de um dia de um ator. Eu troco com você. Fico no seu escritório e você, vai ensaiar, vai correr, vai ler, vai decorar um texto, vai cantar, vai construir um personagem, vai perder a voz, vai estar com dor de barriga e mesmo assim, vai ter que apresentar, impreterívelmente às 21h. Vai ganhar 10 reais por isso, porque naquele dia só cinco pessoas estarão na platéia. Os dez que ganhou você usará para tomar um lanche na padoca por volta das 2 da madrugada. E começará o outro dia do zero.

Seu trabalho é duro. Eu sei.

Só não venha dizer que eu não trabalho não.

Eu nunca falei isso de você.

29.4.08

dia mágico

O último dia 27 de abril teve para mim um gostinho de vitória. Sensação de estar nesse dia há pelo menos uma semana. O dia do Quixote em Pouso Alegre.

E ele aconteceu. Aconteceu lindamente. Graças ao esforço de muita gente. Graças a força de vontade. Graças a todos que acreditam no Quixote. No espetáculo. Na força que ele parece ter.

O bonito é que. Cada vez que o Sancho vai ao palco. Ele descobre coisas novas sobre ele mesmo. Sobre o espetáculo. Sobre a Aline que ele é. Esse renovar-se é o que faz valer a pena.

Lá estava eu. Teatro Municipalde 1815. Ensaio geral. Foll on the Hill tocando. Não pude me conter. Desabei. Chorei Chorei. Eu. Aline. Porque o Sancho não chora. O Sancho é feliz. Até roubarem o seu ruço querido. Sua alma. Sua razão de viver.

O teatro lindo. O público cheio de vida. Pessoas agradecidas.

Quem agradece são os Imaginários.

Quem agradece sou eu. A todos os verdadeiros imaginários. Que sabem bem quem são.


Imaginários montando cenário no Teatro Municipal de Pouso Alegre-MG

25.4.08

o bobo na colina

Já que o assunto é Beatles...

É Beatles que alimenta minha alma. Me faz seguir em frente. Mesmo que ninguém goste de mim. Eu sigo sozinha na colina. Com a cabeça na nuvem. Falando muito alto. Mesmo que ninguém me ouça.

O sol caindo.
O mundo girando.

Eu não mostro meus sentimentos? Mostro. Sim.
Mesmo que ninguém pareça gostar de mim. Eu não ouço. Eu sei que os bobos são os outros.

De olhos fechados. Sigo meu sonho. Com um sorriso bobo.

Eu estou aqui. Não dou respostas.
Mesmo que ninguém queira me conhecer, me ver, me ouvir. Continuo aqui.

Quem quiser matar monstros comigo. Siga-me.


(Paul fez essa música para mim, para o Quixote, mesmo que ele não saiba)

21.4.08

dançando beatles

Amigas de infância. Ao som de Revolver e Abbey Road. Flash Back.

Não. Minha infância não foi na época dos garotos de Liverpool. Mas sim. Beatles é umas das coisas das quais sinto nostalgia. Sem ter vivido.

Mas ontem vivi. Duas amigas da época de colégio no palco. Uma Paul. A outra Harrison.

Dançando. Sentindo. Silenciosas.

O Reencontro é tão bonito dessa forma. Queria mais vezes encontrar pessoas que foram importantes em épocas da minha vida assim: dançando Beatles. No palco.

A vida tem seus intantes de felicidade.

E o espetáculo é uma graça. Como Beatles. Como elas.


Silenciosas em Revolver-Road (www. silenciosas.com)

18.4.08

o terror da página em branco

Hoje não sabia sobre o que queria dizer.

Ouvindo Anthony and the Johnsons e jogando Tetris.

Pensei.

Porque a gente se obriga a sempre fazer alguma coisa? Para escrever eu sempre tenho que ter uma opinião formada e uma idéia muito boa na cabeça?

Cenas que sempre me incomodaram: os malditos escritores amassando folhas e folhas de papel. Em busca de uma palavra. Que agonia. Aquela lixeira cheia de bolinhas brancas.

A palavra. A vida. É tão dificil deixar fluir. E ir. E ir...

Assim somos todos.

E de repente. Borboletas somos.

A cena da vida acontece. E foge. Foge de nossas mãos.

Fogem as palavras.

E ficamos voando.

Infinito.

15.4.08

o inferno de todos nós

Se tem um Inferno que é bom é esse. A primeira vez que assisti a peça "17xNelson, o inferno de todos nós", não pude coompreender porque aquilo era chamado de Inferno. Para mim era o Paraíso. O paraíso poder viver tão intensamente toda a obra do Nelson Rodrigues em uma peça só.

O Paraíso aquele cenário maravilhoso e aquele figurino deslumbrante.

Nesse inferno. Personagens Rodrigueanos descalços e com os pés feridos pelas chamas passeiam por você fazendo sentir-se um deles. Em ordem cronológica as peças são contadas e todas as fases do Nelson Rodrigues são claramente expostas. Uma verdadeira aula.

Não há como não ficar tentando adivinhar de que peça é cada cena. Se você já não sabe a ordem, claro. E o surpreendente é se deparar com um ciclo que não se fecha. Sabendo que "A Serpente", útima obra do dramaturgo, nos remonta a sua segunda e mais aclamada obra, "Vestido de Noiva". E a disputa entre irmãs. Dá vontade de pedir pra peça começar de novo. Bis.

A sensibilidade dos atores e do diretor emociona. O ponto mais surpreendente, para mim, é a cena do monólogo "Valsa nº6". Que eu já vi ser representada por duas atrizes, Anna Cecília Junqueira e agora, Fabiana Scaglioni. Muito lindas no papel.

Aliás. Já vi a peça pelo menos umas oito vezes, pessoas ficaram, pessoas se foram, pessoas mudaram de papel. E aquele Inferno continua único, e tão bonito, que sempre vale a pena. Por tudo.

Não é a toa que a peça entra e sai de cartaz desde 2005.

"Diabo diz: Toda a família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. E lá um dia, aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo." (trecho de 17xNelson)



Adilson e Luciana Azevedo - Toda Nudez Será Castigada (cena de 17xNelson)

Fica só até dia 04 de maio no Centro Cultural. (informações ao lado)

12.4.08

auto-ajuda é dom quixote



(ilustração de Salvador Dalí)



Uma vez. Emputecida com pessoas que gastam dinheiro comprando livros de auto-ajuda. Soltei: Se liga, auto-ajuda é Dom Quixote.

Sei que posso estar um pouco repetitiva no tema. Mas é o meu projeto querido. E. Sim. Um tema inesgotável. Uma vez li, não sei se são estatíticas verdadeiras, mas li. Que "O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha" é o segundo livro mais lido do mundo. O Primeiro é a Bíblia. Mas a minha Bíblia é Dom Quixote.

Já que falamos de auto-ajuda queria fazer uma pergunta clichê para mim mesma. Se você, Aline Baba, pudesse conhecer uma pessoa, viva ou morta, quem você escolheria? Cervantes. Não precisava nem falar com ele. Só abraçar. E dizer: muchas gracias.

As duas jornadas do nosso queridíssimo cavaleiro andante valem muito mais do que qualquer coisa nessa vida. Se até Dostoiéviski disse que o Dom Quixote é o resumo da vida. Quem sou eu para contestá-lo? Para contestar Dalí. Nietzche. Goethe.

As pessoas costumam procurar respostas em livros baratos. Mas as verdadeiras respostas estão dentro de nós mesmo. Como um livro pode ter a impáfia de ser classificado como auto-ajuda? As verdadeiras respostas estão em livros como Dom Quixote. Que fazem você descobrir sozinho quem você é. Sem dizer. Só sentir.

Sentir que: "O bonito era que estava de olhos fechados, porque realmente dormia sonhando andar em batalha com o gigante."

9.4.08

repouso alegre

Sair do ambiente hostil de São Paulo. Aqui temos que lutar todos os dias para que nosso trabalho seja reconhecido. Luta árdua. Muitas vezes em vão. Nessa loucura que é a nossa metrópole. Que respira teatro. Mas muitas vezes sufoca. Terra das oportunidades. De nenhuma. Experiência reconfortante.

Foi assim que eu, René e Octávio, representando a Cia. dos Imaginários, saímos pela estrada. Para encontrar. Em Pouso Alegre. Cidade mineirinha. Hospitalidade.

Imaginários que somos. Não imaginávamos. Aqui tanto tempo lutando por respostas. Lá. Pessoas se mobilizando pelo nosso trabalho. E assim, nosso "Cavaleiro da Triste Figura" pode pela primeira vez se esbaldar. Sem ter que matar nenhum monstro. Sem perder um dente sequer.

Pessoas agradecidas por estarmos lá querendo mostrar o nosso espetáculo. Trazendo cultura para uma terra tão carente dela. E as coisas foram acontecendo com tanta facilidade. Que, sem que percebêssemos. A proporção de tudo foi aumentando. E o Quixote talvez dê suas voltinhas de bicicleta pelo Teatro Municipal da cidade. Lindo. Diga-se de passagem.

"Acho que o Teatro Municipal é mais apropriado pro espetáculo" disse a doce Adaysa Fernandes, responsável pela infraestrutura da Univas, que junto com o colégio Anglo nos convidou para ir para lá. Sem saber. Que estávamos perplexos diante daquilo tudo. Calejados que somos.

Precisavam vocês serem mosquinhas para ver as nossas caras ao adentrarmos naquele teatro. É apropriado sim. É apropriado para o sonho de qualquer companhia. Sair de São Paulo. Ser bem recebido. E ver gente que se importa com o que você faz.

Eu apresentaria até na praça de Pouso Alegre.

Pois tenho certeza de que lá.

Quixote.

Estará bem longe dos leões.
 
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